Educação

Com o fim dos vestibulares, estudantes podem virar mentores para passar experiência adiante

Por Redação

27/01/2023 às 13:47:28 - Atualizado há
Vestibulandos que conseguirem a tão sonhada vaga na faculdade poderão já pensar em aproveitar o conhecimento para prestar mentoria a outros jovens a partir deste ano. Aprovados em vestibulares se tornam mentores para ajudar estudantes

imagem: Freepik.com

Com os vestibulares chegando ao fim, os estudantes que conseguirem a tão sonhada vaga na faculdade poderão já pensar em aproveitar todo o conhecimento aprendido para virar um mentor e passar a sua experiência adiante a partir deste ano.

Também chamados de monitores ou tutores, eles ajudam outros estudantes a ingressarem no ensino superior compartilhando dicas sobre o conteúdo e sugestões de como organizar os estudos. Muitos trabalham como voluntários, mas há quem receba pelas mentorias prestadas e faça disso uma carreira.

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Só no caso do programa social Salvaguarda, iniciativa que visa a auxiliar alunos da rede pública, de 2020 a 2021, o número de mentores atuantes saltou de 800 para 1.500. Segundo o fundador e idealizador do projeto, Vinícius de Andrade, o marco fez com que o programa alcançasse pelo menos um voluntário de cada universidade pública brasileira.

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Impacto social

Andrade, que é estudante de economia na USP, conta que a ideia do projeto surgiu após fazer uma pesquisa com alunos do ensino médio da rede pública e perceber que, apesar de a maioria afirmar que gostaria de continuar os estudos, poucos tinham informações sobre os meios de ingresso no ensino superior.

Fui percebendo que o recorte muito relevante que afasta os alunos de escolas públicas do ensino superior e que é pouco falado é a falta de informação. É muito comum o aluno não entender o que é uma universidade pública, não saber que existem auxílios para entrar em uma.

Ele, então, decidiu levar universitários para visitarem as escolas. A ideia era que falassem sobre os cursos que faziam, suas trajetórias e objetivos profissionais.

Vinícius de Andrade é idealizador, fundador e CEO do programa social Salvaguarda, que reúne mentores voluntários para vestibulares

Arquivo pessoal

O Salvaguarda nasceu em 2017 atuando em escolas públicas de Ribeirão Preto, no interior paulista. Desde 2020, o programa passou a ter atuação nacional. Já foram em torno de 30 mil alunos, mais de 600 aprovados, ajudados por cerca de 3 mil voluntários - universitários ou formados em alguma universidade.

"Nosso grande ativo são os voluntários e a grande magia é o contato entre eles e os alunos. No geral, eles atuam nas frentes de correção, tutorias, monitorias ou psicologia", diz.

Retribuição

O projeto Salvaguarda trabalha também em parceria com a FrentePsi, criada pela Hariff Eleonora Barbosa - ela própria uma ex-aluna de escola pública que virou mentora como forma de retribuir a ajuda que recebeu de um cursinho popular e foi decisiva para passar em psicologia na USP.

Formada em psicologia da USP, Hariff Eleonora auxilia estudantes com apoio psicológico

Arquivo pessoal

"Como fui beneficiária de um cursinho popular da minha cidade, sentia o desejo de facilitar o percurso profissional de pessoas de origens parecidas com as minhas", conta Hariff, de 28 anos.

Fundada em 2019, quando Hariff estava prestes a se formar, a iniciativa desenvolve projetos de apoio psicológico a organizações educacionais. Segundo ela, mais de 300 alunos já foram atendidos pelo trabalho.

Acredito que o principal ponto do apoio psicológico oferecido seja a promoção de um espaço acolhedor e de uma escuta profissional às demandas que inevitavelmente atravessam essas pessoas em processo de preparação para o vestibular.

O mesmo espírito de retribuir a ajuda recebida foi o que levou o estudante de medicina Rafael Frizzo, de 22 anos, a virar um mentor de vestibulandos.

"Gosto demais do que faço. Sinto que estou fazendo a diferença na vida de alguém e que meus conselhos e acompanhamento podem ajudar a diminuir a tensão da caminhada em busca da aprovação em medicina", diz.

O estudante de medicina Rafael Frizzo conta que decidiu se tornar mentor para retribuir a mentoria que recebeu

Arquivo pessoal

Carreira de mentor

A mentoria também pode ser uma oportunidade de carreira. Foi depois de buscar alternativas para aprofundar as aulas que dava em um cursinho pré-vestibular que o professor Cláudio Recco conheceu o processo de mentoria.

Formado em história pela USP e dando aulas da disciplina desde 1982, ele também exerce a função de coach e mentor desde 2019. Para ele, o papel do mentor é o mais amplo de todos.

Segundo ele, a mentoria costuma definir quais são as características, habilidades e competências para o ritmo de estudo que deve ser dedicado pelo estudante para cada uma dessas disciplinas que encontrará pela sua frente, considerando que os pesos dessas disciplinas podem ser diferentes.

Eu não promovo a mentoria de história. Promovo uma mentoria de pré-vestibular. Eu vejo a mentoria como uma coisa muito mais ampla", explica.

O professor de história Cláudio Recco, que também atua como mentor

Arquivo pessoal

Mentor não é 'coach pitaqueiro'

Vice-presidente para o Brasil da Rede Global de Mentores (RGMentores), instituição sem fins lucrativos que tem como objetivo integrar mentores, Kleber Rodrigues afirma que a principal diferença do mentor em relação ao coach e ao professor é que o mentor usa a sua experiência de vida como base para o desenvolvimento do trabalho.

Ao contrário do que muitos apregoam, um mentor não é um 'coach pitaqueiro', mas um profissional que faz uso da sua experiência prática em prol de um desenvolvimento humano abrangente.

O profissional, no entanto, destaca que conceitos utilizados no coach também podem ser combinados para auxiliar no crescimento do mentorado.

"Ao longo do processo, o mentor pode até combinar conceitos e técnicas de coaching, conceitos de livros, mas todos a partir de sua experiência, com o objetivo de criar um ser humano melhor, enquanto facilita o seu sucesso", ensina.

Kleber Rodrigues, vice-presidente para o Brasil da Rede Global de Mentores (RGMentores), atua especificamente com a mentoria

Arquivo pessoal

Desde 2015, Rodrigues atua especificamente com mentoria na área do desenvolvimento humano e já atendeu a mais de 800 pessoas em processos de mentoria grupais e individuais. O ingresso na rede é gratuito e permite acesso a diversos cursos (gratuitos e pagos), workshops, materiais e fóruns organizados e oferecidos pelos próprios membros.

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Carreira

Além da área de educação, também há profissionais pelo Brasil e no mundo prestando mentorias em outros setores, como marketing, gestão de pessoas, liderança e inovação.

Segundo Rodrigues, conhecer a experiência e o aprendizado de quem já trilhou caminhos similares nos permite ganhar tempo e precisão.

"Dentro da Rede Global de Mentores, integramos, hoje, 3.803 mentores, sendo quase 900 com alguma certificação. No Brasil, somos 623, mas ainda estamos começando por aqui", destaca Rodrigues.

Apesar de não ser necessária uma formação, ele a considera relevante. "Qualquer pessoa com uma rica experiência em alguma área pode se tornar um mentor. Naturalmente, dentro da Rede Global de Mentores, defendemos a formação e a prova de certificação, como uma forma de adquirir novas ferramentas e credibilizar este mentor", afirma.

* Sob supervisão de Ardilhes Moreira
Fonte: G1
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