Em 2021, foram realizados 1.733 transplantes em Minas, o que indica um aumento de cerca de 13% no ano passado. Os números também são maiores na comparação com 2020, primeiro ano da pandemia, quando foram feitos 1.573 procedimentos. Ainda assim, é necessário um aumento de 28% em relação às operações do ano passado para chegar à marcar dos 2.512 transplantes registrados em 2019.
O cirurgião e diretor do MG Transplantes, Omar Lopes Cançado, explica que a pandemia atrapalhou em diferentes frentes. As doações foram prejudicadas porque pacientes infectados com o coronavírus eram automaticamente descartados para o processo e porque o isolamento social afastou familiares do convívio direto com pessoas hospitalizadas, o que dificulta a decisão de doação. Além disso, a COVID-19 sobrecarregou as estruturas hospitalares durante boa parte dos últimos dois anos. O médico avalia o desempenho do ano passado e cita mudanças que podem favorecer um aumento de procedimentos em 2023.
“A gente considera um ano positivo porque houve um aumento em relação a 2021, mas ainda foi aquém quando comparado a 2019. Isso também porque a pandemia ainda não acabou. Continuamos tendo pacientes positivos, mas agora o Ministério da Saúde autorizou a captação de órgãos em pacientes que tenham PCR positivo, mas sem sintomas. Ainda depende, claro, de as equipes e pacientes aceitarem”, comenta o responsável pela estrutura que coordena os transplantes no estado, ligada à Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig).
Entre os tecidos, o transplante de córnea foi o que liderou os procedimentos no ano passado, com 773 procedimentos. Ele vem seguido da medula óssea, com 245, e das escleras, com 41. A fila de espera pelas córneas é a maior no estado atualmente, com 2.863 pessoas aguardando.
O rim foi o órgão mais transplantado em 2022, com 669 operações. Na sequência, vêm os procedimentos de transplante de fígado, com 150 e os de coração, com 63. Na fila, os pacientes que aguardavam um rim até o fim do ano passado somavam 2.861 pessoas; 87 esperavam um fígado; 49, um transplante de rim e pâncreas; 32, um coração; e 10, um pâncreas.
No balanço final do ano passado, 5.902 pessoas estavam na fila de espera em Minas. Dessas, cerca de 97% esperando por rim ou córneas. Segundo Omar Lopes Cançado, essa proporção é comum. “Existe uma quantidade maior de pacientes com doenças que acometem esses órgãos, elas são mais prevalentes. Essa discrepância em relação a outras estruturas é esperada”, exlica.
O médico ressalta que a fila de espera não tem um andamento padronizado e que não é possível calcular, para cada paciente, uma previsão de tempo para o recebimento de um órgão. Vários fatores interferem no processo, como a compatibilidade do órgão do doador com o corpo do recebedor e a gravidade do paciente que espera por um transplante.
DOAÇÃO NO FOCO
Um ponto de consenso sobre a questão da redução da espera por um transplante é que são necessárias mais doações. Este é o foco do MG Transplantes, que tem uma meta de aumentar a oferta de órgãos em 20% ano após ano. O cirurgião Omar Lopes Cançado explica que existem três tipos de doadores possíveis.
“O doador vivo pode doar um órgão ou parte dele para um parente de até quarto grau, desde que haja compatibilidade. Um segundo tipo é o doador que morre e pode ceder tecidos, com as córneas. E tem o doador em morte encefálica, que é quando o cérebro morreu, mas os órgãos estão sendo mantidos a partir de aparelhos ou drogas. Nesse caso, a pessoa pode doar todos os órgãos e tecidos, dependendo, claro, das condições do paciente”, aponta.
O médico salienta que é preciso entender que o diagnóstico de morte encefálica é uma constatação de óbito, diferente de um estado de coma, por exemplo. Ele aponta que fatores como receio e a falta de entendimento sobre esSe contexto dificultam que famílias autorizem a doação de órgãos. Em Minas Gerais, entre 25% e 30% dos parentes autorizam a retirada de órgãos para transplante, uma taxa de recusa alta.
Segundo o diretor do MG Transplantes, as estratégias para retomar o ritmo pré-pandêmico em 2023 passam pela conscientização da importância da doação de órgãos e pela capacidade de informar sobre o diagnóstico de morte encefálica.
“A ideia é incrementar ainda mais o esclarecimento sobre essa condição. A legislação brasileira é uma das mais rigorosas ao estabelecer a morte encefálica e a condição para doação de órgãos. É seguro. Além disso, vamos oferecer cursos para profissionais de saúde não só de diagnóstico da morte encefálica, mas também de comunicação com familiares dos pacientes em situações críticas”, afirma.
Os órgãos doados em Minas Gerais são, preferencialmente, avaliados para transplantes em território mineiro. No caso de não haver compatibilidade, é feita uma consulta à lista de espera de estados vizinhos. O diretor do MG Transplantes explica que o sistema nacional é unificado, com normas feitas pelo Ministério da Saúde e que regem o funcionamento dos processos em todo o país, mas a captação de órgãos é regionalizada para favorecer questões logísticas.