Passados quatro dias do acidente que vitimou quatro jovens do Esporte Clube Vila Maria Helena, de Duque de Caxias (RJ), na BR-116, em Além Paraíba, a reportagem do Estado de Minas conversou com os sobreviventes, organizadores do torneio e pais das vítimas para fazer uma reconstituição daquele domingo (29/1), em que os jovens deixaram Ubaporanga, até a madrugada de segunda-feira (30/0) em que aconteceu o acidente.
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- O time sub-18 do Esporte Clube Vila Maria Helena disputa dois jogos da Copa Nacional de Base: um às 11h30 e outro às 14h30. Com a vitória nos dois jogos, a equipe se torna campeã da categoria. - O time sub-16 joga por volta das 17h. Perde a partida e fica com o vice-campeonato. - As partidas ocorreram no estádio localizado no Córrego do Barracão, no interior da cidade; - Entre às 19h e 19h30 acontece a premiação. Os adolescentes recebem as medalhas e os troféus; - Após a cerimônia eles retornam para o alojamento em que ficaram ao longo da disputa do torneio. Por volta das 21h deixam Ubaporanga e partem com destino a Duque de Caxias. Uma viagem de 447 quilômetros. Segundo os depoimentos colhidos pelo
Estado de Minas, a maior parte da responsabilidade do acidente recai sobre o motorista do ônibus. De acordo com os adolescentes, desde que deixou Ubaporanga, o motorista dirigia em alta velocidade. “Nas curvas, que era para ele ir a 60km/h, ele estava indo a 90km/h. Tinha um clima estranho”, contou Yorran dos Santos Gonçalves, de 15 anos. “Algumas vezes pedimos para ele parar (de acelerar). (horas antes do acidente) Nós levamos um susto, porque ele ultrapassou a faixa da esquerda e veio uma carreta buzinando. Aí ele foi e voltou para a faixa da direita, rápido”, relembrou Pedro Henrique Santana, 17, que era o único acordado na hora do acidente.
Pausa para o lanche
Segundo os adolescentes, eles apenas almoçaram ao longo do domingo. Como as partidas começaram cedo, não tiveram tempo de ter uma alimentação regular. Por isso, ao retornar para Duque de Caxias pediram para o motorista estacionar em alguma lanchonete de beira de estrada.
Contudo, o motorista não gostou muito da ideia. “Pedimos muitas vezes [para ele parar para o lanche], porque a gente ficou desde cedo jogando e não almoçamos direito. Aí paramos para comer umas 22h30, 23h. Mas ele não queria. Depois de pedir muito ele parou. Mas apressou a gente, para comer rápido, para comer no ônibus”, disse Pedro. “Quando a gente estava pedindo para ele parar para comer, ele não queria, o DG [Diogo Coutinho Vilar, uma das vítimas fatais], conversou com o motorista, porque geral estava com fome. Mas ele falou assim: ‘se forem parar, tem que ser rápido, pois quero chegar logo no Rio’”, relembrou Yorran. A pausa, de acordo com os relatos, foi rápida. Cerca de 15 minutos depois eles retornaram ao ônibus para seguir em viagem.
A hora do acidente
Depois de terem feito o lanche, os adolescentes começaram a dormir. O único que permaneceu acordado foi Pedro Henrique. “Cheguei a comer um pouco de biscoito. Aí cochilei um pouco. Acordei, comi mais um pouco e vi que todos estavam dormindo. Meu colega, que estava do meu lado, até falou: ‘você não dorme não?’, falei: ‘pô, irmão, tô sem sono’, e continuei deitado”, relembrou. Segundo Pedro, o motorista continuava a andar acelerado pela estrada. “Ele continuou a andar muito rápido. Os lugares que eram para ele descer a 40km/h, ele descia a 60km/h”, contou o jogador. Por volta de 1h da manhã de segunda-feira, o Corpo de Bombeiros de Além Paraíba recebe o primeiro chamado: um ônibus havia tombado na BR-116 e caído próximo a um córrego. “Na hora do acidente, lembro que estava em linha reta. Ele jogou um pouco o ônibus para o lado esquerdo e voltou muito rápido [para a direita]. Nessa que ele voltou, já viramos o ônibus”, recordou o garoto. Após a queda, os adolescentes acordaram e buscaram formas de sair do veículo. “A gente tentou quebrar a janela de trás, mas a gente viu que se fizesse isso, ia cair no rio. Aí o José, que estava na frente, achou a porta e começou a dar vários chutes e abriu a porta e começamos a sair”, relembrou Yorran. “Eu estava com meu telefone, liguei o flash e comecei a pedir socorro. Entreguei meu celular para que pudessem tirar outras pessoas do ônibus. E fomos retirando. Depois que tiramos muita gente, um colega conseguiu subir pelo canto da pista e voltamos para a estrada”, relembrou Pedro. Cerca de 15 minutos depois as primeiras ambulâncias chegaram e começaram a resgatar as vítimas.
Pedro contesta versão de motorista
Logo após o acidente, a Polícia Civil de Minas Gerais abriu um inquérito para apurar as causas da queda do ônibus. Uma testemunha chave para entender o fato é o motorista do veículo. No depoimento que prestou para a PC, o motorista disse “que não se lembra bem da situação”. Na sequência, ele disse que “teve a impressão de ter visto uma carreta e entendido que ela queria fazer uma ultrapassagem, mas que ela teria desistido e recuado. No entanto, o condutor teria se assustado, jogado o ônibus para o lado e o veículo teria se chocado contra a proteção lateral da pista”, informou a PCMG; Pedro, no entanto, contesta essa versão do motorista. “Não ouvi barulho de nenhuma carreta. Ele jogou para a esquerda e voltou muito rápido para a direita, como se ele tivesse cochilado e acordado no susto”, contou. Em nota, a empresa responsável por fazer o transporte dos garotos de Ubaporanga até Duque de Caxias informou "que prestou assistência aos órgãos competentes para facilitar o resgate das vítimas” e que funcionários foram até os hospitais para acompanhar as vítimas. A empresa ressaltou que o importante é "a recuperação das pessoas envolvidas no acidente, e o apoio aos familiares que perderam seus entes queridos". Sobre o motorista, a empresa não comentou. Em entrevista ao jornal
Estado de Minas, José Geraldo Neves, 41, organizador da Copa Nacional de Base,
disse que o motorista do ônibus partiu de Ubaporanga descansado. “O motorista ficou o dia inteiro descansando. Cansado não estava. Passou o dia se preparando [para a viagem]”, comentou José Geraldo.
Vítimas do acidente
Dos 33 ocupantes do ônibus, quatro morreram: Kaylon da Silva Paixão, de 13 anos; Thyago Ramos de Oliveira, de 15 anos; Andrey Viana da Costa, também de 15 anos; Diogo Coutinho Vilar (comissão técnica), de 18 anos. Várias vítimas foram liberadas e já estão em Duque de Caxias com os familiares. No entanto, nove ainda se encontram em hospitais de Além Paraíba, Leopoldina e Muriaé.