O alto fluxo de foliões durante o carnaval de Belo Horizonte, que começou oficialmente no dia 4, aquece os ânimos do setor terciário da capital. Uma pesquisa da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) revela que 74,8% dos comerciantes, prestadores de serviço e rede hoteleira estão otimistas com a festa e o impacto na economia. “O período incentiva, direta e indiretamente, a geração de empregos em diversos setores”, afirma o presidente da entidade, Marcelo de Souza e Silva, para quem a festa é um multiplicador de ganhos. “Muitas pessoas aproveitam o momento para obter renda ou melhorá-la, e isso deságua no comércio e serviços, que são as principais atividades”, comenta. Que o diga a comerciante Maria Fernanda Patrus, de 37 anos, proprietária da loja de presentes Mundo de Anna, aberta em 2004 para atuar no mercado de perfumes, bijuterias e outros acessórios, portfólio expandido para artigos temáticos de carnaval em 2014. “Começou mesmo com um grupo de amigas que estava se preparando para ir ao carnaval e não achava nada. Foi uma necessidade de ter coisas diferentes, das cores que a gente queria, fugindo do comum, produzindo acessórios de acordo com os temas dos blocos”, conta Maria Fernanda, recordando que quando a folia começou a ganhar corpo em BH, o que se via nas ruas eram itens típicos de outras festas, como chapéu de bruxa e orelhas de coelho. Foliã de carteirinha, Maria Fernanda pretende se divertir em muitos blocos, entre eles o Pena de Pavão de Krishna, seu favorito, e o Havaianas Usadas. Ela conta que na última edição do carnaval, em 2020, chegou a fazer mais de 200 adereços e que mesmo na pandemia recebeu pedidos de pessoas querendo se fantasiar. Sem falar no faturamento esperado para 2023, a comerciante observa que sempre há aumento nas demandas no período de carnaval e que a volta da folia anima os comerciantes. Os itens são vendidos a partir de R$ 29, mas há produtos para todos os gostos e bolsos. “Meu tíquete médio é realmente um pouco mais elevado, mas existem muitas opções com bom custo/benefício. A loja funciona com encomendas e os clientes têm a possibilidade de fazer orçamentos”, detalhou. De acordo com a pesquisa da CDL, 54,1% dos comerciantes esperam boas vendas para o período de festa. Os entrevistados acreditam que as roupas vão liderar as vendas, com 29,7% das preferências, enquanto os adereços aparecem com 11,7%. Em termos de desembolso, a expectativa dos comerciantes é de que os foliões adquiram dois produtos, com preços em torno de R$ 86,41 cada um. Ou seja, um desembolso de R$ 172,82 em fantasias por folião. Após dois anos sem festa, os números impressionam e são satisfatórios. “A gente fala em torno de 5 milhões de pessoas nas ruas para o evento, algo que pode acrescentar ao movimento normal da cidade um valor em torno de R$ 700 milhões, o que é muito positivo para as vendas e para empregabilidade”, calcula Marcelo de Souza e Silva. A cifra é 16% maior do que a esperado pela Prefeitura de BH – algo em torno de R$ 600 milhões. Jacqueline Bacha, proprietária da Simone Modas, empresa do setor de vestuário com 52 anos no mercado e atuante tanto em Venda Nova quanto no Hipercentro de BH, fez um investimento alto para o período, aumentando o estoque de vestuário com cores vibrantes e neon, croppeds e roupas de banho – para quem for “fugir” para os clubes e cachoeiras de Minas Gerais. “A gente espera um aumento no faturamento de, no mínimo, 20% em relação a 2022, porque este ano as pessoas já estão seguras (quanto à COVID-19), volta o carnaval de rua, e os blocos, clubes, restaurantes e bares têm programações intensas”, aposta Jacqueline, que considera o carnaval a maior festa do Brasil.
ACRÉSCIMO NA RENDA A maior festa de rua de Belo Horizonte também representa oportunidades para pessoas físicas que precisam complementar a renda, falando não só de quem se credencia como ambulante. Ao longo do período do carnaval, muitos foliões aproveitam para investir em algum produto e somar ganhos com sua ocupação atual. Movimento muito bem-vindo para a economia, avalia o presidente da CDL. “Isso tudo é oportunidade. Quando falamos em empreendedorismo, a gente fala disso. Quem se envolve dessa maneira e busca fazer esses produtos que podem ser comercializados, daqui a pouco pode se tornar um microempreendedor individual, se formalizar, achar seu nicho”, lembra Marcelo de Sousa e Silva.As vizinhas Fernanda Amado e Sol Kuaray estão nessa lista. Com produtos artesanais, elas vão a bloquinhos e usam as redes sociais para impulsionar as vendas. Fernanda, de 34, é fitoterapeuta – especialista em plantas medicinais – e utiliza da expertise para produzir um Eco Glitter, feito em várias cores a partir de um mineral chamado mica, vendido em kit junto com um gel vegano específico. “Sem o gel, o mineral não iria grudar na pele. É uma formação simples, na verdade, mas muito ecológica e até crianças podem usar”, contou. Carioca, a fitoterapeuta mora na capital mineira desde o início da pandemia e já considera o carnaval de BH um ótimo estímulo à economia local. Com o “caixa ainda aberto”, ela conta que já vendeu em torno de 25 kits ao preço mínimo de R$ 45, mas com variações que chegam a R$ 129, dependendo da composição do conjunto. Segundo a pesquisa da CDL, o item composto por glitter e adesivo facial deve representar apenas 6,7% das vendas, mas Fernanda destaca que esgotou seu estoque. “Agora, estou correndo atrás para produzir mais e vender neste fim de semana, que tem várias feiras e blocos, a cidade está bem cheia. Inclusive, alguns blocos vieram me consultar para saber se podia vender para eles”, conta. Já a baiana Sol Kuaray, de 35, é professora da rede estadual de ensino e também atua na área da cultura. Em Belo Horizonte desde 2018, quando fazia mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais (Ufmg), ela tem vendido brincos de EVA pelos blocos da cidade como uma forma de curtir a folia e gerar uma renda extra. No início da sua vida na capital mineira, Sol tentou vender camisetas pintadas no carnaval. “No carnaval, não é todo mundo que usa camiseta na rua, então pensando em algo mais versátil e acessível para as pessoas usarem eu decidi fazer algo voltado para uma 'fisioestÉtica', com o design de plantas e folhas”, contou. A professora começou a vender os brincos no primeiro dia da folia, no último sábado (4/2). “Agora pretendo me jogar no carnaval de BH e faturar mais”, disse. Sol vendeu 12 brincos por preços que variam de R$ 10 a R$ 25, mas já tem outros 25 prontos para atender os foliões pelas ruas da cidade.
Motoristas de aplicativos esperam faturar mais
Com a intensa movimentação em direção aos mais de 500 cortejos de blocos pelas ruas de BH, a maior parte dos foliões deve aproveitar o transporte público em suas rotas, principalmente o metrô, que espera receber um enorme número de pessoas se deslocando até a Estação Central, no coração do carnaval. Mas motoristas de aplicativo também têm expectativas altas na festa, em especial nas regiões um pouco mais afastadas do Centro-Sul, com suas ruas e avenidas bloqueadas. “O carnaval aumenta muito as corridas, acredito que será um movimento bacana”, aposta Júnia Oliveira, de 33 anos, que espera faturar 30% mais do que em dias normais. A motorista ressalta os cuidados que os passageiros devem ter durante o carnaval. “Principalmente com bebida, porque se sujam o meu carro, prejudicam meu trabalho. Com a COVID-19 também é preciso ter cuidado, a pandemia não acabou e a circulação no período é muito grande, as pessoas entram e saem do veículo toda hora.” Por outro lado, Simone de Almeida, condutora de aplicativo há quase dois anos, pretende evitar a folia. “Vou ser sincera, vou rodar para o lado contrário. Muitas ruas ficam fechadas, aí eu acho inviável rodar no sentido do carnaval”, disse. Simone é também técnica de enfermagem, e agora sua atuação é mais intensa no fim de se- mana. De qualquer maneira, ela espera ter um aumento nas corridas. “Espero ganhar mais dinheiro nos dias em que rodar, pelo menos uns 50% a mais com as corridas”, afirmou a motorista, que também destaca o preço dinâmico como uma forma de aproveitar o aplicativo na folia.
Trio elétrico de olho na renda de marketing
O carnaval de Belo Horizonte recebe uma programação recheada por 493 blocos, que vão ocupar as ruas de todas as regionais da cidade. O número representa alta de 40% em relação à última edição da folia, em 2020, que recebeu cerca de 350 blocos. Para “puxar” essa festa, os trio elétricos são essenciais para o bom funcionamento dos cortejos, e o clima é positivo no segmento. Edson Gonçalves Soares atua no ramo desde 2017 com a Trio-040 e está empolgado. “Este carnaval vai ser muito melhor que os outros, dizem que será maior até que alguns do Nordeste. Então, a expectativa é muito alta com essa quantidade de gente na rua”, ressalta. Por outro lado, o trio elétrico é o maior gasto dos blocos. Um levantamento do Estado de Minas mostra que, em 2020, o aluguel de um veículo de pequeno a médio porte custava R$ 9 mil. Atualmente, o mesmo tipo de carro já chega aos R$ 17 mil, quase o dobro. Já os trios grandes custavam R$ 20 mil e agora estão na faixa dos R$ 45 mil. A justificativa para Edson é o alto custo de manutenção dos veículos, que são aparelhados com equipamento de som e segurança. A Trio-040 atua com um carro grande, que tem o aluguel na faixa dos R$ 40 mil. “O carnaval exige um equipamento muito bom, pois ele vai evoluindo com a tecnologia. E até o diesel, que no último carnaval era R$ 3,50, agora está quase R$ 6”, argumenta o empresário, que diz lucrar pouco com a prestação do serviço. “A gente faz isso por causa de marketing. Eu tenho uma outra empresa que vai ter a marca ali no trio, então as pessoas veem aquilo e depois procuram o outro empreendimento”, explica . A empresa conta com seis funcionários e vai prestar o serviço para blocos como o Filhos da PUC e o Me beija que eu sou pagodeiro, que devem ter a presença de milhares de foliões. Além de ser o trio do Bloco Uau Chá, da tradicional banda de axé Babado Novo, que se apresenta em BH amanhã, no Mineirão.
*Estagiário sob supervisão da subeditora Rachel Botelho