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E se fosse em Minas? Como o estado se prepara para extremos climáticos



O temporal que assolou o litoral norte de São Paulo no último fim de semana (18 e 19/2) chocou o país e ainda mobiliza equipes de resgate e ações de solidariedade a moradores da área onde mais de 50 pessoas morreram no desastre ambiental. O episódio também chama a atenção pela intensidade da chuva, que quebrou recordes históricos para a região, e alerta para a incidência de eventos climáticos extremos também em outras regiões do país. Já são 57 mortes confirmadas, há desaparecidos e mais de 4 mil desabrigados ou desalojados. Em Minas Gerais, a Defesa Civil afirma que se esforça para monitorar situações com risco de desastre, mas destaca que a eficiência das ações preventivas passa pela compreensão do perigo pela população. O aquecimento global e as alterações climáticas já são sentidos ao redor do mundo pela ocorrência de eventos extremos. O cenário é um desafio para os órgãos de monitoramento e prevenção de catástrofes, que devem lidar também com a conscientização da população para a importância de seguir as orientações e compreender a gravidade dos alertas. É o que explica o tenente-coronel Carlos Eduardo Lopes, coordenador estadual adjunto de Defesa Civil de Minas Gerais. Ele comenta que os temporais no litoral paulista devem ser tratados como um episódio que excede a média histórica da região, o que não elimina a necessidade de precaução. “Gosto sempre de pontuar que esse evento de São Paulo foi realmente extremo, com números de incidência de chuva não eram registrados nas últimas décadas. Tivemos alguns registros de 600 milímetros em 24 horas. De qualquer forma, a gente sabe que essa é uma temática importante, as alterações climáticas têm provocado eventos severos de forma mais recorrente. Diante disso, a Defesa Civil realiza, nos últimos anos, ações preparatórias para enfrentarmos esse período chuvoso entre outubro e março”, disse.
SIRENES O meteorologista Ruibran dos Reis corrobora o alerta feito pelo tenente-coronel e aponta que as chuvas que atingiram São Paulo foram previstas. Ele aponta que é importante que os alertas sejam compreendidos pela população para que o monitoramento tenha um resultado efetivo de evitar tragédias por eventos climáticos.  “A meteorologia tem uma capacidade muito grande de prever esses eventos graves. Cada vez estamos tendo eventos mais severos e constantes. O La niña, junto com aquecimento global, por exemplo, facilitou a chegada das chuvas em Minas nos últimos anos e a população precisa ter sensibilidade e informação sobre a necessidade de se proteger. Gosto da medida que o governador de São Paulo anunciou, com as sirenes, por exemplo”, pontua. Ao longo da semana, o governador paulista, Tarcísio de Freitas, admitiu falhas nos sistemas de alerta do litoral paulista e anunciou a instalação de sirenes para evacuação de pessoas em áreas de risco na região. O coordenador-adjunto da Defesa Civil de Minas afirma que o mecanismo já existe no estado, mas em situações específicas, e reforça a importância dos alertas emitidos por órgãos de prevenção.
ALERTAS  “Hoje, a principal ferramenta usada é o mapeamento das áreas de risco, isso tem que ser difundido. As pessoas precisam saber se estão ou não em áreas de risco. É importante, dentro do que é previsto no plano de contingência, as pessoas adotarem ações para não ser surpreendidas e por isso usamos SMS, WhatsApp e orientação em núcleos locais”, diz o tenente-coronel. E reforça:  “As pessoas têm que entender que quando há um alerta da Defesa Civil a situação é realmente séria e devem associar esse alerta a uma ação preventiva”. Segundo ele, a utilização de sirene é uma alternativa no nosso estado, mas é mais usada em áreas de risco de rompimento de barragem. “São Paulo e Rio de Janeiro têm um histórico maior de ocupação em espaços de declividade (encostas) e, por isso, viram essa necessidade de colocar sirenes”, explica. De acordo com a Defesa Civil de Minas Gerais, o sistema de alertas segue recomendações internacionais para redução de riscos de desastres e proporciona adaptação e resiliência aos municípios, mediante entrega prévia de informações que lhes permitam antecipar tempestades, ondas de calor, enchentes e secas. No ano passado, foram enviados 1.574 alertas via mensagem de texto no estado.
DESAFIOS Quarto maior estado do Brasil em área, Minas Gerais tem, em sua extensão por si só, uma dificuldade para a atuação preventiva de desastres associados a ocorrências climáticas. O tenente-coronel Carlos Eduardo Lopes explica que esse fator é levado em consideração no planejamento da Defesa Civil estadual, que tenta se capilarizar para atender às demandas específicas de cada região. “A gente tem uma atenção regionalizada. A sede é em Belo Horizonte, mas temos 18 agências regionais. Isso facilita trabalhar com o problema local. Temos municípios afetados pela estiagem, outros com problemas pela presença de barragens, outros mais propensos a sofrer com as chuvas. Vale lembrar também que esse contexto de mudanças climáticas tem provocado problemas em áreas que historicamente nem sofriam com eventos extremos e, portanto, é necessário um trabalho ainda mais incisivo para que a população entenda que avisos de risco não devem ser negligenciados”, destaca. O trabalho de interiorização da Defesa Civil, de acordo com o coordenador estadual, passa também pela capacitação dos servidores municipais. O conhecimento dos profissionais sobre regiões específicas é levado em consideração no planejamento de prevenção de tragédias. “Muitas vezes, o desastre é a junção de uma ameaça externa com a existência de vulnerabilidade. Por isso a importância da capacitação de agentes municipais, já que eles fazem a gestão do território e sabem os eventuais locais vulneráveis a um tipo de risco. Outro aspecto que vale destacar é a entrega de kits com viaturas, notebooks, coletes e treinos digitais para auxiliar materialmente os municípios”, comenta. POPULAÇÃO EM RISCO De acordo com levantamento feito pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia, Minas Gerais é o estado com a maior população vivendo em áreas de risco geológico. O estudo, atualizado pela última vez em 30 de janeiro, aponta que há 581.703 pessoas nessa situação no território mineiro. Minas é o segundo estado com mais áreas de risco, de acordo com o estudo, com 2.849. O estado fica atrás apenas de Santa Catarina e tem mais que Espírito Santo, São Paulo e Pará, as unidades da Federação que vêm na sequência da lista, somadas. Vale destacar que o trabalho de mapeamento contemplou cerca de 1,6 mil cidades no país e abrangeu mais municípios nas unidades federativas listadas. Portanto, não é um retrato exato da situação do país, mas fornece detalhes importantes sobre a vulnerabilidade da área estudada. Em Minas, há 671 áreas apontadas como de risco muito alto e 2.178 de risco alto. Do total, cerca de 75% estão sob perigo de deslizamento, 15% de inundação, 3% de erosão, 2% de queda e 4% listados como outros fatores.
ANÁLISE DO TRABALHO De acordo com Lopes, o trabalho de capacitação dos agentes municipais e de fomento aos sistemas de alertas individuais está sendo intensificado ano após ano diante das alterações climáticas e da recorrência de eventos extremos. Segundo o tenente-coronel, os resultados foram percebidos nos balanços dos últimos períodos chuvosos. “Se a gente pegar o número de óbitos, que é o maior indicador, tivemos nesse período chuvoso 22 óbitos relacionados às chuvas. No ano passado, foram 30; no ano anterior, 74. O objetivo, claro, é não ter óbitos, mas considerando que estamos enfrentando eventos cada vez mais extremos, as reduções são significativas”, avalia. De acordo com a atualização do boletim da Defesa Civil de Minas Gerais publicado ontem (24/2), as chuvas já causaram 22 mortes desde o início do período chuvoso, em 21 de setembro do ano passado. Ao todo, 2.219 pessoas ficaram desabrigadas, quando há necessidade de acomodação em espaços públicos, e 12.571 desalojadas, quando elas conseguem se abrigar na casa de amigos ou parentes. Atualmente, há 276 cidades sob decreto de emergência por desastres relacionados à chuva em Minas Gerais e outras 94 pela seca. A lista não considera necessariamente a intensidade dos eventos aos quais os municípios foram acometidos, mas a capacidade de resolver os impactos com os recursos da administração local.  De acordo com definição do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MG), essa situação se caracteriza quando um município fica parcialmente comprometido na capacidade de atender a uma situação provocada por desastres.

Fim de semana com previsão de temporais

 O último fim de semana de fevereiro deverá seguir com pancadas de chuva fortes pelo Brasil e alertas de temporais em ao menos cinco estados. Áreas do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Paraná devem ser as mais afetadas, inclusive com chance de ocorrência de granizo, segundo previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Isso porque a combinação de uma massa de ar quente e úmida com a formação de uma frente fria entre o Oceano Atlântico e o Rio Grande do Sul potencializa as áreas de instabilidade e chuvas no Sul. Já no Centro-Oeste e áreas do Sudeste, o calor e a alta umidade favorecem as típicas chuvas de verão. No Sudeste, os maiores acumulados de chuva devem ocorrer no Centro-Sul de Minas Gerais, em São Paulo e no Rio de Janeiro, com volumes superiores a 90mm. Nas demais áreas, ele deve ficar em 50mm. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, este sábado será de muitas nuvens com pancadas de chuva e trovoadas isoladas durante todo o dia. Os termômetros variam entre 20OC e 31OC na capital paulista, enquanto a mínima será de 22OC e a máxima de 37OC no Rio. Na capital mineira, pode chover de maneira isolada durante todo o dia. A mínima será de 18OC, e a máxima, 33OC. A previsão, segundo o Inmet, é de muita chuva e, de maneira geral, o acumulado deve variar entre 50mm e 80mm na Região Centro-Oeste do país. Em Campo Grande, a mínima será de 19OC e a máxima de 31OC, com previsão de sol com algumas nuvens e pancadas de chuva e trovoadas à tarde e à noite. Em Goiânia o cenário é semelhante, com a temperatura mais alta chegando a 33OC hoje. Em Cuiabá, os termômetros ficam entre 23OC e 34OC, com 90% de chance de chuva, durante todo o dia e à noite. Em Brasília, o cenário é parecido, com temperaturas um pouco mais baixas, variando de 17OC a 29OC
NORDESTE  E NORTE O fim de semana poderá ter pancadas de chuva acompanhadas de trovoadas e raios, além de eventuais rajadas de vento. Os maiores volumes serão registrados em áreas do Maranhão e Piauí, ultrapassando os 90mm. Nas demais áreas, não devem passar de 30mm. Hoje, Aracaju, Maceió, João Pessoa, Recife, Salvador, São Luís e Teresina terão manhã e tarde com muitas nuvens e possibilidade de chuva isolada, e noite de muitas nuvens. Os termômetros ficam entre 23OC e 32OC. Em Fortaleza e Natal, a tendência é de pancadas de chuva e trovoadas isoladas a qualquer hora do dia. As temperaturas variam de 23OC a 32OC. Praticamente toda a região Norte terá volumes de chuva acima de 60mm. A exceção fica para o Nordeste do Amazonas e do Pará, e áreas do Tocantins, onde os totais podem superar os 90mm. Em Belém, Macapá, Manaus, Porto Velho, Rio Branco e Tocantins, o fim de semana será de tempo nublado com pancadas de chuva e trovoadas a qualquer hora, e temperaturas variando entre entre 22OC e 32OC. Já em Boa Vista, o sábado também terá pancadas de chuva e trovoadas a qualquer momento, enquanto o domingo (26/2) será de dia nublado. A máxima pode chegar aos 34OC.
SUL No Sul do Brasil, os maiores acumulados de chuva são previstos para o Leste do Paraná, ficando em torno 90mm. No restante da região, os valores devem variar entre 30mm e 50mm. Curitiba terá temperaturas variando entre 18OC e 26OC. O fim de semana terá dias nublados, com pancadas de chuva e trovoadas isoladas. Em Florianópolis e Porto Alegre, também chove a qualquer momento, com temperaturas entre 22OC e 30OC.

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