RELAÇÕES AFETIVAS Durante o evento, histórias se cruzaram, enquanto o saxofonista Edsaxx mostrava seu talento em músicas bem apropriadas para o momento. Um grupo feminino fotografava a paisagem e sentia o vento perto da janela, enquanto brindava com espumante e ensaiava alguns passos ao som das canções. Professora residente em BH, Ana Cristina de Sousa Cardoso lembrou de muitas idas ao Acaiaca na conversa com a cunhada Angélica Cardoso, a filha, Luísa Cardoso, a irmã Fabíola Cardoso, as amigas Luciana Lobato e Ana Cristina Costa Val, e a sogra do filho, Elizete Ferreira. “Meu primeiro contato com o edifício foi a partir da Igreja São José (atual Santuário São José). Nunca tinha vindo aqui no alto. Agora, acho que todos precisam viver esta experiência”, afirmou. Mesmo com muletas, devido a uma torção no tornozelo direito, a estudante de arquitetura Bárbara Hoffmann, de 22 anos, aproveitou bem as duas horas entre o cair da tarde e a chegada da noite com Lua e estrelas. “Temos uma vista incrível aqui do alto, podemos ver toda a malha urbana e sentir que BH se tornou mesmo uma metrópole”, disse Bárbara. Ao lado, a amiga Camille Rabbi, de 24, também futura arquiteta, comentou sobre a beleza da luz do verão “que dá um tom dourado à cidade”.
O caminho do mirante
» Para fazer o agendamento do Fim de Tarde no Terraço Acaiaca, o interessado pode comprar o ingresso pela plataforma Sympla, com o link na bio do Instagram @terracoacaiaca. » O próximo evento está marcado para 29 de março, das 17h30 às 19h30.» O ingresso custa R$ 100 e dá direito à primeira taça de espumante (que pode ser trocada por cerveja, água de coco ou refrigerante), água, petiscos (queijos, pães, patês, amendoim e chocolate) e uma apresentação sobre a história do Edifício Acaiaca.Herança indígena e do Jequitinhonha
Se a paisagem do alto do prédio que é um dos marcos do Centro de BH já é um espetáculo, o recém-restaurado Edifício Acaiaca, construção com 130 metros de altura e 30 andares, parece formar um par perfeito para a contemplação. Na fachada, como testemunhas de quase oito décadas, encontram-se os índios ou efígies indígenas – um virado para a Rua Espírito Santo, outro, para a Rua dos Tamoios –, testemunhas dos acontecimentos na Avenida Afonso Pena, das manifestações populares na escadaria da Igreja São José, do surgimento dos arranha-céus e, acima de tudo, do crescimento da metrópole. Conforme estudos arquitetônicos, as efígies são fruto de uma época de transição para o modernismo, quando são incorporados à arquitetura elementos da cultura nacional. O nome do prédio também vem de uma lenda indígena: nas proximidades do Arraial do Tejuco, atual Diamantina, havia um povo que venerava um frondoso cedro, ao qual chamavam Acaiaca. Reza a tradição da tribo que no começo do mundo, o Rio Jequitinhonha transbordou, inundou tudo e só um homem e uma mulher sobreviveram, pois subiram na árvore para se proteger. Depois que as águas baixaram, o casal repovoou a Terra.HISTÓRIA No estilo art déco, o edifício construído pelo empreendedor Redelvim Andrade, natural da região de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, teve projeto do seu genro, o arquiteto Luiz Pinto Coelho. No local, havia uma igreja metodista, erguida 38 anos antes, conta o presidente do conselho do condomínio, Antonio Rocha Miranda. O prédio localizado no número 867 da Avenida Afonso Pena tem quatro pavimentos acima do terraço, incluindo antiga moradia do caseiro, casa de máquinas e cúpula. Com o subsolo, são 30 andares, o que já lhe valeu o título de maior arranha-céu de BH. Os de saudosa memória vão se lembrar do cinema que existia logo no térreo, diante do qual se formavam longas filas à espera da sessão seguinte. Na sua história, o edifício abrigou também lojas de roupas femininas, boate, escola e a primeira sede da extinta TV Itacolomi, dos Diários Associados, primeira emissora mineira, inaugurada em 1955.
Saiba mais - Abrigo anti-Hitler no coração de BH
Tombado pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte, o Edifício Acaiaca, inaugurado em 1947 com projeto que completa 80 anos em 2023, foi erguido durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) – daí haver no subsolo, debaixo do antigo cinema, um abrigo antiaéreo. Vale a explicação de que, na época, pairava o temor de que Adolf Hitler (1889-1945) pudesse mandar bombardear o Brasil. Assim, o Acaiaca seguiu decreto do então presidente Getúlio Vargas (1882-1954) para construções com mais de cinco andares erguidas no período, assim como ocorre com algumas das edificações da Praça Raul Soares, também na capital.Estado de Minas