Como "encantador de cachorros", Adelmar chamava a atenção de quem passeava pela feira. Com seus sete cachorros presos ao carrinho para coletar os produtos frutos do seu sustento, ele revela com orgulho o nome dos amigos, aqueles que o entendem, que têm uma conexão especial, o defendem, dão afeto e carinho e estão prontos para uma brincadeira: "Hoje estão comigo Nique, Chimbica, Sofia, Pipoca, Pirulito, Nina e Pretinhha. Em casa, estão Chicão, Bob e Princesa. Aqui estão presos por causa dos carros, mas lá em casa só ficam soltos".
Sem querer ficar muito tempo longe de nenhum dos cachorros, Adelmar criou uma estratégia para tê-los por perto: "Semana que vem, trago para rua os três que ficaram em casa hoje. É assim, revezo".
Em toda amizade há alguns atritos, nada que não se resolvam. Mas Adelmar conta que precisa ficar de olho, colocar uma certa ordem, já que "os cachorros grandes não deixam os pequenos comerem nem beberem água." Comigo por perto não tem problema, tudo bem, mas se viro as costas...", diz.
Luta diária pela sobrevivência
Como catador de papel, Adelmar revela que fica na rua, trabalhando, três, quatro dias por semana, longe casa: "Assim, deixo três (cachorros) em casa, para tomar conta, já que só mora eu e Deus. E tenho de ganhar dinheiro para pagar água, luz e comprar comida para mim e para eles".
Mesmo com dificuldade, obstáculos e a dureza da vida, Adelmar tem em seus cachorros a esperança de uma vida, pelo menos em alguns instantes, mais leve e certamente com amor: "Eles me ajudam, me defendam, fazem companhia porque sou só eu e Deus".