Uma operação para colocar fim à disputa entre duas gangues de traficantes de drogas que atuam na Região do Barreiro, em Belo Horizonte, e nos bairros Vila da Paz e Joanna D’Arc, em Contagem, na região metropolitana, foi deflagrada na manhã desta terça-feira (3/10) pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Polícia Militar (PMMG) e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Cinco pessoas morreram: três seriam líderes de facção e dois seriam "soldados" do tráfico.
O objetivo era cumprir 18 mandados de prisão e 24 de busca e apreensão expedidos pelo Juízo da 1ª Vara de Tóxicos, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da capital. De acordo com as autoridades, já são pelo menos 28 mortes em função dessa guerra entre as duas facções. A operação, batizada “Pax Vobis", foi montada para o cumprimento dos mandados em Belo Horizonte, Contagem, Ibirité, Pedro Leopoldo, Lagoa Santa, São Gonçalo do Pará e Viçosa.
As forças da Polícia Militar foram preparadas para um confronto, devido ao alto risco proporcionado pelas duas gangues. Quando chegaram a Mateus Leme e cercaram um sítio, os policiais foram recebidos a tiros. Os policiais revidaram e isso resultou na morte de duas pessoas, sendo dois líderes do tráfico no Joanna D’Arc, ambos com mandado de prisão expedidos e penas a cumprir, mais um soldado do tráfico.
Em Felixlândia, os policiais também foram recebidos com tiros em um sítio, sendo que no local morreram um líder da mesma facção, que tinha mandado de prisão em aberto, além de um soldado do tráfico.
Segundo o promotor do Gaeco, Peterson Queiroz Araújo, a investigação começou no ano passado, depois da constatação de que os homicídios eram fruto de uma disputa de território por duas facções de traficantes. “A Inteligência da PM detectou que, de setembro de 2022 até março de 2023, foram 28 mortes numa mesma região, no Barreiro, todas ligadas ao tráfico de drogas”.
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Chama a atenção, segundo o promotor, o fato de que até mesmo a venda de um imóvel tenha sido proibida pelos traficantes, que tinham interesse nessa casa, para controle da região. “Na parede estava escrito: ‘Essa casa não pode ser vendida’. Isso é um absurdo”, diz ele.
Um outro caso que chamou a atenção, segundo o promotor, é que um casal de idosos foi expulso da casa onde moravam "só porque eram avós de um integrante da gangue rival”.
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Tudo isso, segundo ele, mostra o domínio da região pelos traficantes. “As pessoas eram impedidas de sair de casa depois de determinado horário”.
A major Layla Brunella, porta-voz da Polícia Militar, conta que já existiam queixas de moradores sobre o cerceamento de liberdade e que todos estariam subjugados aos desejos dos traficantes.
“Fizemos um atendimento à necessidade da comunidade dos dois aglomerados. Todos estavam incomodados e privados de liberdade pois, muitas vezes, não podiam, sequer, sair de casa”, diz a major Layla, da PM.
Números alarmantes
Segundo a major, estima-se que o total de mortes, em função dessa guerra entre as duas gangues, chegue a 100 mortos. Até o momento, além das 28 mortes, 14 pessoas foram presas, sendo que sete já estavam no sistema prisional.
“Essas pessoas, as que estão em presídios, por incrível que pareça, ditavam ordens de dentro de suas celas, o que é inadmissível”, afirma a policial.
E existem, segundo ela, casos de mortes de inocentes. “Uma família saiu do interior para comprar um filhote de cachorro no Barreiro. Mas quando chegou ao local, aconteceu uma troca de tiros entre integrantes das duas facções. Três pessoas morreram, um genro, sogro e um acompanhante. Chegou nesse nível”.
Muitas vezes, também, segundo a major, moradores eram obrigados, por traficantes, a esconder drogas e até mesmo vender ou fazer entregas de drogas a compradores no varejo.
Abordagens
A major Layla explica que os líderes das duas facções já não moravam mais na região do Barreiro. “Eles se mudaram para longe da área de atuação como traficantes. Mateus Leme era um ponto de reunião dos caciques do grupo de Joana D’Arc. Assim como era Felixlândia”.
Por isso, as abordagens feitas nesta terça-feira foram carregadas de tensão. “Nosos policiais já sabiam da possibilidade de revide por parte dos traficantes. E foi o que aconteceu. Tão logo foi dado o alerta da presença da PM, eles alvejaram os policiais, que revidaram, o que culminou com as mortes desses homens.”
Os mortos, cujos nomes ainda não foram revelados, eram responsáveis, segundo ela, pelo recebimento da droga, distribuição, contabilidade de tráfico e lavagem de dinheiro.
Segundo o promotor, no período de um ano, os traficantes chegaram a movimentar R$ 14 milhões. Nas ações da manhã desta terça, foram apreendidos um fuzil, sete pistolas e revólveres, duas pistolas com Kit Roni, que transforma a arma em metralhadora. Foram apreendidos, também, R$ 50 mil em dinheiro e vários celulares.
A major Layla acredita que a operação desta terça-feira é um duro golpe nas duas gangues. “Alguns dos líderes estão fora de combate e são os cabeças desses dois grupos. Eles aguardarão o julgamento presos”.
Estado de Minas