Ela conta que deixou suas roupas, pertences e dinheiro na casa de amigos, no Monte Sinai. "Eu tinha programado visitar o Egito, passar uns cinco dias e retornar a Israel. Mas como a guerra explodiu, não tinha como retornar. A solução foi comprar uma passagem e voltar para o Brasil". Leia: Biden apoia versão de Israel sobre bombardeio a hospital em Gaza
Foi uma situação muito desgastante, segundo Júlia, mesmo não estando na guerra, mas próxima dela. "Nessa hora, nada tem valor, a não ser a vida. Por isso, considero que tudo o que ficou para trás, está perdido. Talvez um dia volte lá, é um país muito lindo. Espero rever os amigos que fiz. Um dia", afirma. Leia: EUA impõe sanções contra programa de drones e mísseis iranianos
Toda a situalção envolvedno a guerra mexeu com Júlia, que está escrevendo um livro sobre as situações vividas. Um capítulo está pronto. Leia um trecho:
Mais amor, por favor
Eu estou sem palavras. Há três dias já estou sem ter muito o que dizer. A intenção hoje era falar sobre paciência, mas sinto que preciso voltar para este lugar antes de colocá-lo aqui. Dado aos últimos acontecimentos, tornou-se impossível trazer outra intenção para este dia, esta semana, essa vida que seja diferente de PAZ, AMOR e HARMONIA para mim, para você e para o mundo. Os últimos dias aqui no Oriente Médio me fizeram visitar um lugar que eu não conhecia: a guerra, o terror e o medo. O silêncio está barulhento por aqui. As ondas do mar e o vento no deserto trouxeram notícias de guerra. Uma realidade tão distante de repente se mostrou assustadoramente próxima. Ela não está lá. Ela está aqui. O ar tem uma densidade diferente causada pelo medo.Ele passa por mim em forma de arrepio que percorre da ponta do dedo do pé até o último fio de cabelo. Eu vejo a insegurança no olhar das pessoas que temem pela própria segurança, de seus familiares e amigos. Eu a vejo na mãe que teve o filho levado para a base no Líbano; Eu a vejo na mulher que precisa fingir sua nacionalidade para tentar voltar para casa, sem saber como está sua casa; Eu a vejo na falta de notícias das pessoas queridas e desaparecidas. A gente cresce escutando falar sobre guerra de um lugar muito distante do Brasil. Mas aqui é diferente. Já imaginou viver com o som de bombas e alarmes de evacuação sendo normatizado? No meu mundo não tinha isso. Mas o que eu conhecia por realidade virou de cabeça para baixo nos últimos dias. Sigo acreditando na beleza, magia e proteção divina que me trouxe para o Egito 2 dias antes de tudo isso começar.Era para ficar 5 dias no deserto e voltar. Mas antes que eu tivesse tempo para isso, explodiu uma guerra. Saí de Israel com vários planos, sonhos e projetos para o mês de outubro. Umas roupas deixei na casa de uma amiga.Alguns instrumentos ficaram na casa de outra. "Na volta eu pego.""Na volta eu faço.""Na volta eu termino." Mais uma vez a vida me convocou para desapegar. Mais uma vez a vida me orientou para recomeçar. Mais uma vez a vida veio me relembrar que se não agora, quando? Esses momentos nos relembram que bens materiais não valem absolutamente nada. De que adianta, roupa, dinheiro, mochila se minha vida está em risco? Penso nas pessoas que perderam e deixaram pra trás muito mais do que uma mochila. Meu coração hoje está com cada uma delas.O futuro é imprevisível. Na real a gente não sabe de absolutamente nada, e a melhor decisão que a gente pode fazer da vida é viver. Minha intenção para hoje é orar para que o mundo encontre paz. Chega de separação, violência e guerra. Desejo que as pessoas se curem das doenças causadas pela falta de amor. Sonho com o dia que o planeta encontrará o caminho de volta para a liberdade, a alegria e o amor que conecta. Acredito que poder de transformação está em reencontrar o lugar que a gente se une. Com amor,Julia Alvim
Estado de Minas