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"Orando por minha neta", diz avô de menina que iniciou fogo em apartamento

  Os últimos dias injetaram “muita adrenalina” na vida de Valdemilson Ribeiro de Sousa, de 53 anos, que trabalha como chapa de caminhão, “carregando e descarregando soja, milho e sorgo”, em Patos de Minas, na Região do Alto Paranaíba.


  Os últimos dias injetaram “muita adrenalina” na vida de Valdemilson Ribeiro de Sousa, de 53 anos, que trabalha como chapa de caminhão, “carregando e descarregando soja, milho e sorgo”, em Patos de Minas, na Região do Alto Paranaíba. A safra agrícola chegou ao fim, mas o que poderia ser um período de tranquilidade, em casa, transformou-se em longo pesadelo, atenuado apenas pela necessária volta à realidade. “Agora, estou correndo de um lado para o outro, atrás de laudo, boletim de ocorrência e outros documentos. Perdemos tudo...”, explica.
Na tarde do último dia 14/10, enquanto descansavam no quarto, Valdemilson e a mulher, Ilka Botelho Araújo de Sousa, também de 53, acordaram com o apartamento em chamas e o barulho de estalos de madeira, em um incêndio que teria sido iniciado pela neta do casal, de 11 anos. Os dois foram obrigados a pular do quarto andar do prédio no Bairro Ipanema II.
Depois do susto, ele está bem, na casa de uma filha, mas Ilka fraturou os dois pés e foi submetida a uma cirurgia, na quinta-feira (19/10), no Hospital Regional Antônio Dias, de Patos de Minas. “Deus provê e nos dá o desfecho. Fizemos o que Ele mandou”, afirma Valdemilson ao reiterar que “Deus está no controle” e vai definir o futuro da família.
No apartamento do casal, agora destruído, morava a neta, filha única, cujo pai, separado da mãe, vive em Divinópolis, na Região Centro-Oeste de Minas. Conforme as apurações, o incêndio teria sido ocasionado pela garota, que teria ateado fogo ao sofá e trancado a porta do quarto do casal antes de descer para brincar de patins na área externa do condomínio.
Homem de fé, evangélico, Valdemilson, em tom sereno, lembra que, ao se reencontrar com a menina, teve uma única reação: “Eu a abracei, beijei, fiz carinho. Estou orando por ela. Soube pelos médicos que minha neta teve um surto”.
A menina foi encaminhada pelo Conselho Tutelar de Patos de Minas ao pai dela, em Divinópolis. “Estamos acompanhando o caso. Recebemos um e-mail do Conselho Tutelar de Patos de Minas explicando a situação e informando que a menina ficaria com o pai”, disse uma conselheira de Divinópolis.
O Conselho Tutelar de Patos de Minas, por sua vez, faz o acompanhamento de documentos encaminhados à Polícia Civil, ao Ministério Público de Minas Gerais e ao Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas), no município.

CANIVETE PARA ROMPER TELA


Ao se lembrar da tarde de sábado, Valdemilson não consegue culpar a neta pelo incêndio que quase custou a vida dele e da esposa. “Não sei dizer, pois estava dormindo. Só sei que sentimos um cheiro muito forte de fumaça dentro do quarto. Poderíamos até morrer asfixiados. O jeito foi sair pela janela.”Para sorte do casal, não havia grades de ferro. Mas havia uma rede de nylon de proteção. Cortá-la, então, foi a saída. “Estava, no quarto, com meu canivete. Fiz um buraco na rede e pudemos sair por ele, para depois pular”, conta Valdemilson. Vendo o incêndio e o casal saindo pela janela, vizinhos empilharam colchões para amortecer a queda, o que não impediu, no entanto, que Ilka, a primeira a saltar, fraturasse os pés. 

“ALMOFADA DE SOLIDARIEDADE”


A ajuda da vizinhança do Condomínio das Palmeiras foi fundamental para a sobrevivência de Valdemilson e da mulher, Ilka Botelho – a janela do quarto andar do bloco 7, de onde pularam, fica a cerca de 10 metros do chão. Eram 15h40 quando Fábio Júnior Gomes Barbosa, de 27, residente no apartamento térreo do bloco 4, ouviu gritos sobre o incêndio ao lado. Colega de Valdemilson no trabalho de carga e descarga de grãos, ele saiu imediatamente, subiu ao apartamento do casal, mas as chamas impediram a entrada.
Já no lado de fora do prédio, ao ver o casal pendurado na janela, Fábio correu até sua casa, tirou o colchão da cama e o levou para amortecer a queda. “Outros vizinhos trouxeram colchões, e conseguimos empilhar quatro de casal e um de solteiro”, disse o jovem. Àquela altura, a Polícia Militar já estava no local e em seguida chegaram os bombeiros. “Não vi a neta do casal naquele momento, mas soube que ela estava embaixo”.

REMÉDIOs INTERROMPIDOS  


Valdemilson diz que ouviu um psicólogo, após atender a menina, dizendo que ela teve um surto, e que isso poderia ter sido causado pela falta de remédios que usava para o diagnóstico de transtorno bipolar. “Ela estava uns 10 dias sem tomar o medicamento. Minha mulher mandava que tomasse, mas pode ser que ela fingisse”, observa o avô.
Conforme matéria publicada pelo Estado de Minas, o avô, em depoimento, informou que a menina estava autorizada pela mãe a passar a maioria dos dias da semana com eles, embora impedida de usar o celular. Já a avó relatou que a garota tem mudanças comportamentais frequentes e oscilação de humor.
Nota do Conselho Tutelar de Patos de Minas, que classificou o caso como “surto psicótico”, informou que “ela está arrependida, envergonhada e não tem proporção do tamanho do estrago, pela pouca idade que possui. O atendimento no Caps (Centro de Atenção Psicossocial) foi excelente e foi feito um relatório para que ela seja acompanhada por um psicólogo”. Aos policiais, a menina contou ter ateado fogo ao sofá, antes de descer para a área externa do condomínio.
O incêndio poderia ter causado uma tragédia, caso uma vizinha do apartamento do andar de baixo não tivesse fechado o registro do gás. “O gás é encanado, e nossa cozinha fica no fundo do apartamento que pegou fogo. O prédio poderia ter explodido. Felizmente,  nada disso ocorreu.”Devido à perda de muitos pertences com o incêndio, os avós foram encaminhados ao Centro de Referência de Assistência Social de Patos de Minas. O casal vem recebendo colaborações para ajudar a reformar o apartamento. (Com informações de Talyson Oliveira/Especial para o EM) 

Estado de Minas

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