Se você é da época que história começava pelo "Era uma vez ", é bom se atualizar! Depois do storytelling e do avanço tecnológico, novas estratégias têm surgido, entre elas, o storyliving.
Se você é da época que história começava pelo "Era uma vez ", é bom se atualizar! Depois do storytelling e do avanço tecnológico, novas estratégias têm surgido, entre elas, o storyliving. Essa técnica não se limita a contar uma história, ela também busca criar experiências, transportando o público para imersões em realidades construídas. O objetivo é fazer com que o espectador se sinta parte da narrativa como se estivesse em uma experiência “real" e personalizada. O storyliving, que chega como uma das fortes tendências para audiovisual, foi discutido durante a MAX 2023, realizada pelo Sebrae Minas, na primeira semana de novembro, em Belo Horizonte.
Entre os especialistas convidados para o evento, estava a cofundadora da XRBR, especialista em tendências do uso da voz na comunicação e voice artist, Simone Kliass, que participou do workshop "Do storytelling ao storyliving".
Em uma entrevista exclusiva para a Agência Sebrae de Notícias em Minas Gerais (ASN-MG), Kliass explicou sobre a evolução das técnicas de construção de narrativas, a utilização do storyliving no audiovisual e em outros setores, e as estratégias para proporcionar boas experiências para o público.
ASN-MG – Como o storyliving chega no contexto do audiovisual e como ele se diferencia das formas tradicionais de contar histórias, como o storytelling?
Simone Kliass – O storyliving une a arte da narrativa com a imersão e a interatividade profunda, proporcionando experiências dinâmicas e envolventes. Diferente do storytelling tradicional, que usualmente consiste em uma apresentação de conteúdo de forma mais passiva, o storyliving convida os participantes a se engajarem ativamente na trama, tendo a possibilidade de alterar o curso da narrativa muitas vezes, tornando-se protagonistas.
A primeira vez que ouvir falar sobre o assunto foi no Festival SXSW, quando a cineasta Celine Tricart usou o termo para se referir a algumas experiências em realidade virtual, em que o participante é "transportado" para outro tempo/espaço por meio da sensação de presença que a realidade virtual pode proporcionar.
Nessa situação a empatia é passada com muita rapidez e potência. Por exemplo, em "The Sun Ladies" – uma das experiências em realidade virtual da Celine -, você é "transportado" para um acampamento de soldados que lutam contra o "ISIS" no Iraque. Invés de ser impactado por um documentário, você está no meio da cena, olhando no olho das soldadas, sentada à mesa com elas. A empatia é imediata. Você realmente sente que está na cena, vivendo aquela experiência com aquelas mulheres.
Mas, em se tratando de storyliving, existem outras alternativas além da realidade virtual no audiovisual. A técnica também pode ser utilizada em uma peça de teatro, na ativação de marca, em um áudio interativo e imersivo, ou até mesmo em uma exposição de arte.
Como os criadores de conteúdo podem envolver o público de maneira mais profunda e imersiva por meio do storyliving?
Estudando as diferentes possibilidades que estão disponíveis e pensando em como utilizá-las em cada projeto. Não existe uma regra.
O uso da tecnologia muitas vezes facilita a interação, mas não, necessariamente, precisamos utilizá-la. Outro ponto é que preciso de orçamentos altos para criar uma experiência de storyliving. O que se destaca aqui é a ideia, criatividade e adequação ao meio.
Por exemplo, a experiência vencedora do "XR Experience", no SXSW 2023 foi "Consensus Gentium", de Karen Palmer. Apesar de estar em uma exibição de conteúdos em XR – realidade virtual, aumentada e mista – essa experiência não envolvia nenhuma dessas tecnologias. É um storyliving em o usuário interage com um smartphone, e a narrativa é alterada de acordo com suas expressões faciais. Envolve inteligência artificial (AI) e temas como racismo e justiça social.
Assim, para uma experiência de storyliving funcionar bem, temos que criar nativamente para cada plataforma. Não é usar tecnologia por usar. A tecnologia, na verdade, tem que ser uma ferramenta a serviço da história, para melhorar a experiência do público de acordo com cada situação.
Você poderia citar alguns exemplos de produções de audiovisual que incorporaram o conceito de storyliving?
Muitas peças do grupo "Teatro da Vertigem" levam o espectador para o centro da narrativa, como no "Livro de Jó", encenada em um hospital. A plateia seguia os atores pelo hospital como se estivessem dentro da cena. Outro exemplo é o "Sleep no More", teatro imersivo e interativo em um hotel em Nova Iorque, que existe desde 2011. Que também já foi exibida em Londres e em Boston.
A peça promove a interação com os participantes. Cada pessoa pode escolher qual cena vai acompanhar e o ambiente do hotel. Cada pessoa vivencia algo diferente e tem liberdade de escolha. É uma aventura. E em algumas situações os participantes também são chamados para participar efetivamente da cena.
Também posso citar o "The Line", uma experiência imersiva e interativa de realidade virtual da empresa brasileira "Árvore Experiências Imersivas" ganhadora de um Primetime Emmy. Sou a narradora dessa experiência em português e o Rodrigo Santoro a narrou em inglês. Neste caso, o público ajuda os personagens, literalmente, a 'moverem a narrativa'. Usando o corpo, o participante se movimenta, agacha, senta, levanta, ou seja, interage com o conteúdo de uma forma nada passiva. É uma história linda de amor, superação e coragem. Recomendo. O diretor Ricardo Laganaro também estava nesta edição da MAX.
Como a tecnologia ajuda na evolução do storyliving no audiovisual? Quais as inovações tecnológicas que tornaram isso possível?
Por meio da realidade virtual, conseguimos construir projetos de imersão que trazem muito essa sensação de presença. Em vez de assistir, você se sente parte da história. Isso nos permite ir a lugares que não iríamos na vida real. Essa tecnologia imersiva ajuda muito na construção do stotyliving.
As novas tecnologias estão tentando incorporar mais do que os sentidos da visão e da audição, está fazendo com que o público sinta cheiros e tenha a sensação de abraçar, o tato de tocar superfícies, por exemplo. No entanto, não podemos exagerar para não atrapalhar a experiência. O cheiro, por exemplo, se for muito forte, pode incomodar mais do que ajudar.
Por isso, a tecnologia tem que ser utilizada de acordo com o que a experiência pede, e normalmente não é indicada por um período longo, como uma hora. O ideal são 15 minutos.
Quais são as vantagens e as possíveis preocupações éticas associadas à criação de experiências de storyliving no audiovisual?
Para conseguir interação muitas vezes usamos AI como ferramenta. E nesse caso, entram questões éticas já muito faladas atualmente, mas que valem ser reforçadas: qual o limite ético do uso de AI?
A greve dos atores nos EUA veio para reforçar a importância dos direitos sobre a imagem. Temos que falar também sobre quem tem direito de uso da sua imagem e voz depois de sua morte? Estão pipocando recriações de músicas e conteúdos com artistas que já não estão mais aqui. E isso precisa ser regulamentado para que os familiares desses artistas tenham seus direitos garantidos.
Outro ponto que reforço muito é a importância de termos equipes diversas na criação e desenvolvimento de qualquer projeto para evitar esse tipo de problema, e ter um conteúdo que realmente alcance um determinado público com autenticidade. Precisamos abraçar diversidade de gênero, raça, geografia e idade, por exemplo.
Qual é o futuro do storyliving no audiovisual? Quais são as tendências e evoluções que podemos esperar ver nos próximos anos?
Não tem volta. As marcas precisam criar conteúdos para as plataformas onde os consumidores estão. A Geração Z, por exemplo, está consumindo produtos e interagindo em plataformas de metaverso, como Roblox e Fortnite. E para funcionar bem a interação, e não se tornar uma interrupção, precisamos criar nativamente para cada tipo de plataforma, usando os recursos (humanos e tecnológicos) de cada uma delas.
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