Ouro Preto, berço de um dos maiores nomes da arte barroca no Brasil, celebrou na última segunda-feira (18) os 210 anos da morte de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Natural da cidade, o mestre-artesão e escultor deixou um legado imortal, cujas obras continuam a definir a identidade cultural de Ouro Preto e a do próprio Brasil. Seu trabalho é sinônimo de genialidade, resistência e devoção à fé, características que se refletem em suas obras de extraordinária beleza e complexidade.
Grande parte da produção de Aleijadinho está concentrada em Ouro Preto, onde o mestre criou algumas de suas mais famosas obras. Entre elas, destaca-se a Igreja de São Francisco de Assis, projetada em 1766, um dos principais ícones da arquitetura e da arte sacra brasileira. A igreja, que combina a visão arquitetônica do mestre com o trabalho de sua oficina, guarda peças fundamentais de seu estilo, como o altar-mor, o retábulo, o frontispício e a fonte-lavabo da sacristia, todos evidenciando a maestria de Aleijadinho na fusão entre arquitetura, escultura e talha dourada.
Outras obras em Ouro Preto também são marcas indeléveis do trabalho de Aleijadinho. Na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, ele modificou o frontispício e esculpiu a sobreporta, o lavatório da sacristia e os altares laterais. Já na Igreja das Mercês e Perdões, ficou responsável pelo risco da capela-mor e pelas esculturas de São Pedro Nolasco e São Raimundo Nonato. A Igreja de São José, por sua vez, ganhou a marca de Aleijadinho com o risco da capela-mor, da torre e do retábulo, enquanto na Igreja de Nosso Senhor Bom Jesus de Matosinhos ele esculpiu a estátua de São Miguel Arcanjo, entre outras figuras no frontispício. Além disso, Aleijadinho também deixou sua obra-prima na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, com a escultura de Santa Helena.
O trabalho de Aleijadinho é mais do que uma expressão artística; ele é um marco na história de Ouro Preto e do Brasil. Como destaca Flávio Malta, secretário de Cultura e Turismo de Ouro Preto, "a obra de Aleijadinho não só embeleza nossas igrejas, mas também conta a história de Ouro Preto e do Brasil. Ele é um símbolo da nossa identidade cultural, da fé e da resistência da arte diante das adversidades."
A trajetória de Aleijadinho é também uma história de superação. Adoecido por uma doença que deformava suas mãos e pés, o mestre não deixou que as limitações físicas o impedissem de criar. Suas esculturas, como as icônicas figuras dos Profetas de Congonhas, feitas em pedra-sabão, e outros trabalhos espalhados pela cidade, são um testemunho do comprometimento do artista com sua arte, sua fé e sua resistência.
Para marcar os 210 anos de sua morte, Ouro Preto se une em um tributo ao mestre. A Paróquia de Nossa Senhora da Conceição e o Museu do Aleijadinho organizam a 45ª Semana do Aleijadinho, um evento que contará com uma série de atividades culturais e religiosas. Na noite de segunda-feira, será celebrada uma Santa Missa às 19h, presidida por Dom Edmar José da Silva, na Igreja Nossa Senhora da Conceição, projeto de Manuel Francisco Lisboa, pai de Aleijadinho. Após a cerimônia, haverá a inauguração de uma estátua do mestre, doada pelo artista Elias Layon, que passará a integrar o acervo do Museu do Aleijadinho, localizado dentro da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição.
Com este ato, Ouro Preto reafirma sua profunda conexão com o legado de Aleijadinho, reconhecendo não apenas a sua contribuição artística, mas também a sua importância na formação da identidade cultural da cidade e do país.