Silvano Furtado da Costa Silva foi convidado para o Global Disability Summit, congresso sobre deficiências que acontecerá em Berlim, no início de abril. Ele desenvolve projetos sobre a inclusão de pessoas neurodivergentes no mercado de trabalho. Silvano Furtado busca apoio para participar de um congresso internacional sobre deficiência
Arquivo pessoal
Após concluir a graduação, Silvano diz que percebeu as dificuldades que enfrentaria para conseguir um emprego: i
Em 2017, o paraibano Silvano Furtado da Costa Silva, hoje com 25 anos, resolveu as 90 questões da 1ª fase da Fuvest (vestibular da Universidade de São Paulo) em apenas uma hora. E não pense que foi à base de "chutes": no fim do processo seletivo, ele recebeu a notícia de que havia sido aprovado no curso de Direito da instituição.
"Eu sempre tive uma aversão natural a qualquer tipo de prova. Se eu passar 3 horas na mesma atividade, enlouqueço. É uma sobrecarga sensorial: ficar no mesmo ambiente, concentrado por tanto tempo... Por isso, me condicionei a terminar o vestibular bem rapidamente", conta.
??Foi só durante a graduação que Silvano, com apoio de uma psicoterapeuta, entendeu por que sentia esse incômodo tão significativo. O jovem foi diagnosticado com:
transtorno do espectro autista (TEA),
transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)
e altas habilidades/superdotação.
Essas descobertas justificavam outros comportamentos, como a estereotipia na linguagem (no caso dele, uso de um vocabulário extremamente formal), o desconforto sensorial (com luz e sons) e a seletividade alimentar.
"Eu tive um diagnóstico tardio em razão de ser um migrante nordestino — nasci em João Pessoa — que não teve acesso à medicina assistencial na infância. Só descobri [os transtornos] aos 19 anos, porque estava tendo dificuldades na universidade", afirma Silvano.
??Pouco tempo depois, começou a pandemia: foram dois anos de atividades acadêmicas e aulas remotas. "Para mim, acabou sendo tranquilíssimo, porque não precisava lidar com a pior parte da socialização: as regras de convivência que ninguém nos ensina", diz.
"Mas, quando voltei para o presencial, falei durante uma reunião que não voltaria a botar o pé na USP após ter meu diploma, a não ser que passassem a respeitar os neurodivergentes. Era tudo uma bagunça, com métodos avaliativos absurdamente cansativos e com falta de previsibilidade [a mudança de rotina costuma gerar incômodo a pessoas com TEA]."
Silvano começou, então, a formular condutas de inclusão na Faculdade de Direito — coordenou a política de acessibilidade pedagógica, por exemplo, que permitiu aos alunos com deficiência indicarem quais formas de avaliação seriam mais viáveis (chamada oral ou dissertações, por exemplo).
Como o paraibano não conseguia fazer provas, preferia entregar trabalhos aos professores. E eram de nível acadêmico tão elevado que, em um dos casos, o docente sugeriu que o texto fosse publicado em uma revista científica.
Busca por apoio a iniciativas de inclusão no mercado de trabalho
No fim de fevereiro deste ano, Silvano foi selecionado para participar do Global Disability Summit, congresso internacional sobre deficiências que ocorrerá em Berlim, no início de abril.
"Será uma reunião multicultural de pessoas ligadas ao tema. O Brasil ainda está muito atrasado nas discussões sobre autismo. Precisamos estar presentes para criar parcerias captar investimentos e entender o que os outros países estão fazendo na inclusão", afirma.
????Falta agora levantar recursos financeiros para bancar as passagens aéreas, a hospedagem e a alimentação na Alemanha. "Abri uma vaquinha e estou buscando apoio de empresas parceiras. Mas, tão em cima da hora, fica mais difícil", conta. (Segundo Silvano, o melhor caminho para potenciais parcerias e apoio é através do site https://consultea.com.br/)
O convite para o evento surgiu a partir da carreira que Silvano vem construindo desde que se formou. Após concluir a graduação, o jovem entendeu por que há tantos autistas formados que estão desocupados.
"Eu nunca conseguiria me adaptar a um emprego formal, porque cobram constância, e não qualidade. Alguém como eu não seria aceito", diz. Foi por isso que ele começou a trabalhar como autônomo em uma empresa de cibersegurança.
Depois, ainda abriu a "ConsulTEA", uma agência de consultoria que auxilia empresas a estabelecer políticas sólidas de inclusão e a empregar neurodivergentes. Dessa forma, além de elas darem oportunidades a profissionais com deficiência intelectual, ainda seguem uma agenda social de respeito à diversidade, aumentando seu valor no mercado.
Silvano ainda integra a equipe de neurodiversidade da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, em que desenvolve projetos para inclusão.
"São dois objetivos principais: gerar um ambiente de trabalho inclusivo e produzir valor por meio da contribuição desse público, que tem perspectivas diferentes e capacidades únicas", diz.
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