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Antologia de Célia ecoa o suingue e a exuberância do canto da artista nos anos 1970

Por Redação

13/05/2021 às 22:12:11 - Atualizado há
Compilação é fruto da súbita popularidade obtida postumamente pela intérprete em rede social juvenil. ? “Para uma cantora como Célia, a gente não dá, a gente pede conselho”, disparou Maysa (1936 – 1977) ao ser apresentada à paulistana Célia Regina Cruz (8 de setembro de 1947 – 29 de setembro de 2017) no programa de Flávio Cavalcanti (1923 – 1986).

Era 1970 e Célia acabara de impressionar a exigente Maysa ao cantar no badalado programa da TV Tupi com a orquestra do maestro e pianista Erlon Chaves (1933 – 1974), não como caloura, mas já como uma revelação da música brasileira naquele ano de 1970.

Essa curiosidade é contada pelo produtor Thiago Marques Luiz no texto escrito para o encarte da edição em CD da coletânea dupla Célia – Uma antologia – Sucessos e raridades.

Com 30 fonogramas selecionados por Thiago com o jornalista Renato Vieira, a compilação está sendo lançada pela Warner Music, única gravadora que ainda aposta na edição de antologias no formato físico de CD.

Fruto da súbita popularidade obtida postumamente por Célia em fevereiro de 2020 no TikTok, rede social juvenil onde usuária postou gravação que embutia sample da gravação do samba David (Nelson Angelo, 1970), faixa do primeiro álbum da cantora, a antologia de Célia é primorosa pelo repertório – exemplo do gosto refinado da artista – e por reverberar o suingue e a expressividade do canto dessa voz nunca ouvida pelo Brasil com a devida atenção após o boom inicial da cantora na primeira metade da década de 1970.

Capa de antologia de Célia que reúne 30 gravações lançadas entre 1970 e 1982

Divulgação

O mérito da coletânea é trazer para o CD gravações da produção fonográfica de Célia ao longo dos anos 1970, década de 27 das 30 gravações.

As exceções são os três registros – lançados em 1982 no quinto álbum de Célia, Amor – das então recentes músicas Eu te amo (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1980), Amor (Ivan Lins e Vitor Martins, 1981) e Guarânia guarani (Taiguara, 1981).

Além do alto valor documental das faixas extraídas de cinco álbuns nunca editados em CD e de singles obscuros lançados por Célia nos anos 1970, caso da gravação da marcha-rancho É tempo de matar a saudade (Dora Lopes e Clayon), lançada em compacto simples de 1973, a antologia soa aliciante sobretudo pela exuberância do canto de Célia.

Esse canto ainda impressiona pela desenvoltura com que caiu no suingue de músicas como o samba-rock A hora é essa presente de Roberto Carlos e Erasmo Carlos para o segundo álbum da cantora, Célia, gravado com arranjos de Arthur Verocai e lançado em 1972.

Ao mesmo tempo, poucas cantoras conseguiam oferecer interpretações precisas do ponto de vista emocional, mas jamais dramáticas em excesso ou mesmo sentimentais, como a de Célia na abordagem do samba Mãe, eu juro (Peteleco e Marques Filho, 1957), incursão pelo universo particular do repertório de Adoniran Barbosa (1910 – 1982).

O fonograma Mãe, eu juro é do quarto e último álbum lançado pela cantora nos anos 1970, Célia, disco de 1977 do qual os produtores da antologia também selecionaram as irretocáveis gravações dos sambas Minhas madrugadas (Paulinho da Viola e Candeia, 1965) e Folhas no ar (Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho, 1965), ambos lançados na voz de Elizeth Cardoso (1920 – 1990) no álbum Elisete sobe o morro (1965).

O álbum Célia de 1977 se tornou menos badalado dos que os três antecessores, todos também intitulados Célia e lançados em 1970, 1972 e 1975.

O LP de 1975 surtiu efeito nas paradas graças à regravação do samba Onde estão os tamborins? (Pedro Caetano, 1946). Já os discos de 1970 e 1972 são os que se tornaram mais cultuados ao longo do tempo. Ambos são inéditos no formato de CD, mas já ganharam edições em LP no Brasil e no exterior.

O samba é o ritmo dominante na seleção das 30 faixas da antologia de Célia. Contudo, a cantora transita por gêneros musicais como blues – título, aliás, da música de Joyce Moreno e José Carlos Capinan lançada por Célia no primeiro álbum, gravado entre agosto e setembro de 1970 – e frevo, ritmo de Chuva, suor e cerveja (Caetano Veloso, 1971), música gravada por Célia em 1972 para o 15º volume da série de coletâneas As 14 pra frente.

Graças ao trabalho incansável do produtor Thiago Marques Luiz, Célia retomou a carreira fonográfica de forma mais regular a partir da edição do álbum Faço no tempo soar minha sílaba (2007) e jamais precisou viver do passado até sair de cena, aos 70 anos, em setembro de 2017.

Os discos da retomada expuseram a força do canto maturado de Célia. Contudo, os discos dos anos 1970 – resumidos com critério na antologia dupla – já revelaram grande cantora, ainda em tempo de ser realmente descoberta pelo Brasil como foi por Maysa em 1970.
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