Estudo realizado em 18 países mostra a desigualdade de gênero que perpetua uma situação injusta para as mulheres na velhice Mesmo nos países ricos, a desigualdade de gênero se mantém na velhice, concedendo mais vantagens aos homens. Foi o que comprovou uma análise internacional que acaba de ser publicada pela revista científica “The Lancet Healthy Longevity”. O estudo detalha a experiência do envelhecimento em 18 nações da OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne os pesos-pesados da economia mundial. Entre os idosos, eles têm muito mais chances que elas de manter a segurança financeira, conseguir trabalho remunerado e passar um número menor de anos com a saúde debilitada.
No mundo todo, a estimativa é de que, em 2050, 1.5 bilhão de pessoas tenham 65 anos ou mais – em 2019, eram 703 milhões. No entanto, embora as mulheres dos países da OCDE tenham uma expectativa de vida três anos maior que os homens, enfrentam doenças por um período mais longo. Além disso, suas reservas financeiras são substancialmente menores e há uma grande probabilidade de estarem sozinhas no fim da existência. O panorama reforça uma possível associação entre a precariedade na velhice e um maior número de casos de Doença de Alzheimer entre elas, como escrevi na coluna de terça-feira. Como defende o Projeto Cérebro da Mulher, as condições sociais não podem ser dissociadas das biológicas.
Idosas sentadas em banco: desigualdade de gênero proporciona mais vantagens aos homens na velhice
Tibor Janosi Mozes para Pixabay
A doutora Cynthia Chen, da Universidade Nacional de Singapura e uma das autoras do levantamento, afirma que é urgente criar políticas para combater a iniquidade estrutural que favorece os homens. Um dos pontos que merecem atenção é o impacto que representa a atividade de cuidadora informal, que cabe, na maioria das vezes, ao sexo feminino. Trata-se de uma função que não é apenas estressante; frequentemente, faz com que a mulher abandone seu emprego e comprometa sua renda no futuro.
Os pesquisadores se valeram dos dados disponíveis sobre os países entre 2015 e 2019 e montaram um índice para mapear de que forma essas nações possibilitavam um envelhecimento de qualidade para seus cidadãos. Foram computadas cinco áreas, ou domínios: bem-estar (viver com boa saúde e satisfação); produtividade e engajamento (ter uma atividade, remunerada ou voluntária); equidade (como os recursos são distribuídos, particularmente dinheiro e educação); coesão (como os mais velhos são integrados à sociedade, incluindo a condição de não viver só e os investimentos em serviço social); e segurança (não apenas financeira, mas também a percepção dos próprios idosos sobre se sentirem seguros). Os países com a maior diferença de pontuação entre os sexos foram Holanda, Áustria, Itália e Dinamarca, enquanto Finlândia, Polônia, Espanha e Irlanda tiveram a menor diferença.