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Ciência e Saúde

Forma como a CPI da Covid aborda os cuidados paliativos provoca críticas de médicos especialistas


Presidente da ANCP afirma que limitar o esforço terapêutico em pacientes que ainda podem se beneficiar dele não é prática adotada nesse tipo de atendimento Resolvi fazer uma “edição especial” da coluna, nesta quarta-feira, para abordar uma questão que vem deixando os médicos especialistas em cuidados paliativos de cabelos em pé: a forma como a CPI da Covid vem tratando esse tipo de atendimento. Pelas declarações dadas por senadores, a impressão é de que os cuidados paliativos se restringem a pacientes terminais, que estão em seus últimos dias ou horas. No entanto, eles abrangem tudo o que pode ser oferecido a quem tenha uma doença fora de possibilidade de cura ou que ameace a existência, com o objetivo de melhorar a qualidade da vida do paciente. O equívoco ganhou mais força depois que familiares do advogado Tadeu Frederico Andrade, de 65 anos, que teve Covid-19, acusaram a operadora Prevent Senior de recomendar a adoção de tratamento paliativo. Segundo a família, a medida seria adotada para economizar custos e ocorreria em detrimento de outras opções.

Cuidados paliativos abrangem tudo o que pode ser oferecido a quem tenha uma doença fora de possibilidade de cura ou que ameace sua existência, com o objetivo de melhorar a qualidade da vida do paciente

Fernando Zhiminaicela para Pixabay

O geriatra Douglas Crispim, presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ACNP) e médico do núcleo de cuidados paliativos do Hospital das Clínicas da USP, conversou comigo e foi enfático: “de forma alguma desejamos interferir nas investigações e a ACNP vai sempre se posicionar ao lado da justiça, mas é importante esclarecer para o público que os cuidados paliativos não são utilizados apenas para quem está no fim da vida. Seu objetivo é combater, atenuar o sofrimento, o que pode ocorrer num tratamento oncológico, por exemplo. Há muitos pacientes que se beneficiam há anos com os cuidados paliativos que estão se sentindo desrespeitados com essa abordagem”. O doutor Crispim acrescentou que em hipótese alguma os cuidados paliativos são empregados para gerar algum tipo de economia numa unidade de saúde: “a ANCP reforça que limitar o esforço terapêutico em pacientes que ainda podem se beneficiar dele não é uma prática de cuidados paliativos”.

Associar os cuidados paliativos com a morte iminente é um desserviço a todos. De acordo com o livro “Cuidados paliativos: aspectos jurídicos”, tema desse blog em julho, estima-se que cerca de 57 milhões de pessoas necessitem desse atendimento todos os anos, mas apenas 12% o recebem. Quando se fala de um paciente oncológico avançado, este sofre mais de um tipo de dor, sendo que ela pode ser completamente aliviada em 80% a 90% dos casos. No último ranking de qualidade de morte, publicado em 2015, o Brasil aparece em 42º. lugar entre os 80 pesquisados, atrás de Chile, Argentina, Uruguai e Equador – em posição pior que na edição anterior, quando estava em 38º. Na liderança estão Inglaterra, Irlanda, Bélgica, Nova Zelândia e EUA.

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