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Fiscal faz BC projetar inflação acima da meta em 2023, pressionando Selic para além do que o mercado calcula



Autoridade monetária também reconheceu, na ata do Copom, que a atividade econômica perdeu força no curto prazo A conjuntura fiscal já faz com que o Comitê de Política Monetária (Copom) projete inflação acima da meta também em 2023. Por isso, o colegiado do Banco Central (BC) calcula que a Selic precisará ficar nos próximos dois anos acima do que o mercado esperava até o começo de dezembro. É o que mostra a ata divulgada na manhã desta terça-feira (14) e referente à reunião da semana passada, quando o Copom elevou a taxa básica de juros de 7,75% ao ano para 9,25% ao ano. No documento, a autoridade monetária também reconheceu que a atividade econômica perdeu força no curto prazo.

“O Comitê ponderou que o risco de desancoragem das expectativas [de inflação] para prazos mais longos, derivado dos desenvolvimentos no cenário fiscal, indica que há viés altista para as projeções do seu cenário básico (calculado com base em projeções do mercado para a taxa de juros)”, disse o BC. “Como consequência, o Copom avaliou que, considerado esse viés devido à assimetria de riscos, suas projeções se encontram acima da meta tanto para 2022 como para 2023.”

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Assim, o colegiado “concluiu que o ciclo de aperto monetário deverá ser mais contracionista do que o utilizado no cenário básico por todo o horizonte relevante”. Atualmente, o horizonte relevante do BC inclui, com pesos iguais, 2022 e 2023, para os quais as metas de inflação são 3,5% e 3,25%, respectivamente.

O cenário básico do BC pressupõe trajetória da Selic extraída do Boletim Focus, que apresenta a mediana das projeções de instituições financeiras, consultorias e gestoras de recursos colhidas na semana anterior à reunião do Copom. Essa trajetória apontava a taxa básica de juros subindo para 11,75% ao ano, mas terminando 2022 em 11,25% ao ano e 2023 em 8% ao ano. Nesse caso, as projeções de inflação são de 4,7% e 3,2%, respectivamente. Mas esse cenário não leva em conta justamente a assimetria causada pelo quadro fiscal, que na prática aumenta a inflação esperada pelo BC.

Na ata, a autoridade monetária mostrou que usou “diferentes taxas terminais” da Selic para simular as suas projeções de inflação. Além disso, comparou “ritmos de ajuste maiores” do que 1,5 ponto percentual da Selic por reunião “com cenários em que a taxa de juros permanece elevada por período mais longo do que a implícita no cenário básico”.

“Concluiu-se que o ritmo de ajuste de 1,5 ponto percentual, neste momento, é adequado para atingir, ao longo do ciclo de aperto monetário, um patamar suficientemente contracionista”, disse. Nos cálculos do BC, esse patamar é “suficientemente contracionista” não apenas para “garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, mas também consolidar a ancoragem das expectativas de prazos mais longos”.

No documento, o BC alertou que o questionamento sobre o “futuro do arcabouço fiscal” resulta em “elevação dos prêmios de risco e eleva o risco de desancoragem das expectativas de inflação”.

“Isso implica atribuir maior probabilidade para cenários alternativos que considerem taxas neutras de juros mais elevadas”, disse, referindo-se à taxa que não acelera e nem desacelera à inflação.

Em sentido oposto, o Copom tirou trecho presente na ata anterior que afirmava que “as contas públicas têm tido desempenho melhor do que o esperado”. Também foi excluído trecho que afirmava que, “supondo a manutenção dos marcos fiscais vigentes, em particular o controle do crescimento dos gastos, as projeções do Copom preveem trajetória cadente da dívida pública como fração do produto”.

No caso da atividade econômica no Brasil, o colegiado destacou que “revisou para baixo suas expectativas” de curto prazo, chamando a atenção para três pontos principais. O Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre apresentou, por exemplo, “evolução ligeiramente abaixo da esperada, apesar de as atividades mais atingidas pela pandemia terem continuado em trajetória de recuperação robusta”. Enquanto isso, indicadores de frequência maior apontam para “recuo da atividade econômica, difundido entre vários setores, em setembro e possivelmente em outubro”. “No mesmo sentido, os índices de confiança já disponíveis para os meses iniciais do trimestre corrente mostram deterioração”, afirmou.

Para o ano que vem, o Copom disse que há fatores que influenciarão a atividade econômica nos dois sentidos. Pressionando a atividade para baixo, estão “a elevação dos prêmios de risco e o aperto mais intenso das condições financeiras”. Mas agropecuária, serviços e mercado de trabalho tendem a beneficiar o crescimento, segundo o BC.

Por sua vez, a inflação para o consumidor continua “elevada, com alta disseminada entre vários componentes, e tem se mostrado mais persistente que o antecipado”. Um exemplo é a elevação dos preços industriais, que “ainda não arrefeceu e deve persistir no curto prazo”. Já a inflação de serviços “acelerou, refletindo a gradual normalização da atividade no setor, dinâmica que já era esperada”.

“As leituras recentes vieram acima do esperado”, disse também, destacando que essa “surpresa ocorreu” tanto nos componentes mais voláteis quanto nos mais associados à inflação subjacente. A inflação subjacente é aquela mais sensível às taxas de juros e à atividade econômica.

“Prospectivamente, a queda significativa dos preços internacionais de commodities energéticas, que têm exibido volatilidade substancial, limitou a revisão para cima das projeções de curto prazo”, disse.

Por fim, o Copom reiterou que o quadro externo “se tornou menos favorável”, citando, entre outros fatores, “a questão imobiliária na China”. Para o colegiado, ao lado de uma possível nova onda da pandemia nas principais economias e da variante ômicron, o fator ligado à China gerou “quedas nos preços de commodities importantes”.

“Mas ainda é cedo para prever a extensão deste movimento”, disse.

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