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Dia do indígena: data de luta e resistência dentro e fora das aldeias em Minas

Por Redação

19/04/2022 às 16:58:01 - Atualizado há

Dezenove de abril, 9h30 da manhã. Pinta rosto de um lado, coloca cocar de outro e sai correndo para pegar o ônibus. O veículo estava à espera do grupo de cerca de 20 indígenas da aldeia Katurãma, em São Joaquim de Bicas, na região metropolitana de Belo Horizonte. 

Os aldeados, que vivem em um contexto de luta pela terra depois que saíram do antigo lar em função do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, partiram rumo à outra luta: a busca pelo respeito à cultura deles. O dia do indígena para esses Pataxós foi comemorado em uma apresentação em escolas da região, como forma de resistência e existência.

"Para nós, o dia do índio é todo dia. Mas é importante ter uma data para que a gente seja ouvido. É nosso momento de mostrar resistência e sair do território", disse Henrique Wenkanã enquanto finalizava a pintura do rosto.

A conversa com a reportagem durou alguns minutos, já que ele foi o último a entrar no ônibus que os levaria para a cidade.  Tempo suficiente para que ele deixasse o recado em nome de um povo que vem sendo dizimado ao longo da história: "nossa principal luta é pela demarcação do território. Queremos ter paz", disse. 

Ele falaria mais, só que foi advertido com um recado: "Era para termos saído daqui às 8h". E seguiram para o que é visto por eles com a seriedade de quem tem a responsabilidade de mostrar o papel do indígena na sociedade atual e desmistificar preconceitos entre os jovens estudantes.

"As pessoas têm uma visão muito errada sobre o que é ser indígena", diz outro integrante da mesma aldeia, Rondinei Pinheiro, o Xohã Pataxó. Ele conta que já chegou a ser questionado por ter celular. 

"Índio não pode ter celular por quê? Onde está escrito que a gente não pode ter roupa? Eu penso que independente do lugar onde estivermos não deixamos de ser indígenas", afirma. Para ele, o que define um indígena não é o modo de vestir, mas a vivência da própria cultura, o direito de viver em comunidade, em união.

Um direito que segue em ameaça no Brasil, como lembra outro integrante da mesma aldeia, Davi Santos da Silva, o Naô: "As pessoas pensam que nós simplesmente chegamos e invadimos os lugares. Mas a história é contata de 500 anos para cá. Nós só lutamos para ter onde viver. É só isso. E nosso maior inimigo está da aldeia para fora. Não queremos ser mortos queimados como muitos de nós já foram", afirma.

Também em Bicas, a comunidade Nahô Xohã Pataxó Hã Hã Hãe acordou em festa. A comunidade, que perdeu o direito de caçar, pescar e nadar no rio que passa em frente à própria aldeia, aproveitou a data para lembrar as origens. 

"A gente comemora todo ano. É nosso momento de dançar, fazer nossos jogos e rituais. Hoje não podemos seguir nossa tradição porque o solo e a água ao nosso redor estão contaminados. Mas o dia de hoje é nosso momento de viver como aldeia e não como cidade", afirma um dos moradores da comunidade, o indígena Juari Braz dos Santos.

Dança, músicas típicas, corrida de maracá e muita diversão marcou o dia na aldeia. E, antes do fim da festa, os planos para o futuro: "ano que vem vamos fazer uma festa melhor ainda", diz Santos.

Fonte: O TEMPO
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