Ator estreante foi epidemiologista de plantas, operador da Bolsa, executivo de marketing, vendedor de queijo e cantor itinerante. Ele era fã da 1ª versão da novela e fez testes por 5 meses. t
Guito Show como o Tibério de 'Pantanal'
João Miguel Júnior / Globo
Guito Show reage ao sucesso com o jeitinho do seu primeiro personagem na TV, o peão e violeiro Tibério de "Pantanal". "Não esperava de jeito nenhum. 'Nóis tá' no meio de uma 'galãzada danada' lá, os homens mais bonitos que eu já vi de perto: Leandro Lima, o Zé (Loreto) , o Gabriel (Sater)", ele enumera.
O mineiro ainda analisa: "Eu acho que é muito por causa do texto, né? O texto do Tibério ajuda muito, porque ele é um personagem apaziguador e amoroso". A humildade deve reforçar o fã-clube que só cresce nas redes sociais.
Diogo Brito, tem 38 anos e mora em Araxá (MG). Na fazenda do avô, em Lavras, aprendeu a gostar de modas de viola e a curtir a primeira versão de "Pantanal", de 1990. Esse gosto acabou garntindo uma vaga na versão atual. Antes disso, a vida teve outras passagens inesperadas.
Guito Show diz que já foi epidemiologista de plantas, operador da Bolsa, executivo de marketing, vendedor de café e queijo, cantor itinerante, e quase faliu... até conseguir um teste na novela através da ex-mulher do seu primo, Alemão, ex-jogador da seleção brasileira. Segue a saga de Guito em capítulos:
Criança fã de Pantanal: "Eu cresci na roça. Passava os fins de semana na fazenda, com meu avô, e foi exatamente aí que eu vi a novela."
Perdido na Dinamarca: "Era uma criança hiperativa. Fiz pintura, futebol e natação. Aos 18 anos me formei e não tinha ideia do que queria. Aí fui morar na Dinamarca para me conhecer melhor."
Estudante de agronomia: "Quando voltei fiz um tempo de Ciências Sociais em Juiz de Fora. Mas depois eu mudei para Agronomia. Gostei porque envolvia muitos conhecimentos."
Epidemiologista de plantas: "Fui me especializando em epidemiologia de plantas. Fazia laudos sobre sobre remédios. Eles mandavam os produtos e a gente montava os ensaios."
Operador da Bolsa de Valores: "Comecei a gostar da área econômica. Saí para a BMF, para ser operador. Eu operava dólar e café. Aí foi um tempo rodando nessa vida executiva".
Executivo: "Depois corri por várias empresas. Um amigo de Lavras desenvolveu o produto Lacfree da Verde Campo. Fiquei com ele no comercial até a Coca-Cola comprar a empresa."
Cantor e vendedor de queijo: "Na Coca-Cola eu me desiludi porque nunca gostei de coleira. Voltei para meu sonho que é viver tocando pelo Brasil. E também abri um empório em Araxá."
Guito Show (Tibério) e Bella Campos (Muda) em 'Pantanal'
João Miguel Júnior / Globo
Era nesta fase, de comerciante de produtos da roça e cantor itinerante, que Guito estava antes de cair em "Pantanal". Até a pandemia chegar ele não estava insatisfeito em Araxá, com os dois filhos e a mulher com quem se casou há 15 anos.
"Na Coca-Cola eu perdi cada vez mais o controle da minha vida, das coisas que gosto de fazer. Eu não decidia mais aonde ia passar férias, quando posso viajar ou ver minha família. Eles remuneram com dinheiro, mas dinheiro para mim não compra o tempo", justifica.
No empório ele vendia queijos, cachaças, cafés e azeites da roça. Na música, criou um "palco motor-home". "É uma Rural que se converte num palco. Eu vou com meu próprio som, uma solução completa." Ele mirava shows corporativos, de festas de empresas.
A pandemia foi um golpe duplo: no comércio e nos shows.
"Na pior fase só restou encher minha Rural de queijo e cachaça e sair vendendo de porta em porta. Foi isso que fiz antes da novela. Era a única coisa que eu podia fazer para botar dinheiro em casa para meus 'bezerrinhos'", diz sobre os filhos.
"Eu tava ali na beira, narizinho já entrando para dentro d'água", diz Guito Show sobre o sufoco financeiro.
O capítulo atual: galã de 'Pantanal'
Nesse aperto, Guito viu a notícia sobre o remake que a Globo faria de "Pantanal". "Eu não esperava jamais ser um Tibério. Mas eu sabia que poderia participar de uma roda de viola ali, talvez entrar uma música minha, fazer um peão."
"Então mandei um 'direct' no Instagram para o Bruno Luperi (diretor da novela), mas não tive retorno", ele conta. Na mensagem, ele dizia que sabia "de cor" as falas da novela.
Guito esclarece que "de cor" foi uma força de expressão: "Se fosse de 'Rei Leão', eu até saberia de cor", ele brinca. Era impossível decorar tudo, mas ele tinha intimidade com o universo dos peões que assistiu nos anos 90, e depois reviu no YouTube.
Mesmo sem resposta do diretor, ele não desistiu. O caminho para conseguir um teste também precisa de tópicos:
Primo jogador: "Eu tenho um primo, o Alemão, que foi jogador de futebol. Ele jogou até com o Maradona em Nápoli (e foi da Seleção Brasileira entre 1983 e 1990). O meu apelido é Guito por causa dele. Minhas tias brincavam que ele era o Alemão e eu era o "Dioguito Maradona".
Ex-mulher do primo jogador: "A ex-mulher do meu primo Alemão é filha do Oswaldo Loureiro, ator que até participou da primeira 'Pantanal' (ele viveu o Chico Taxista). Eu peguei o telefone dela com o meu primo e perguntei: 'Como é que eu participo do teste? Como é o peneirão?'"
Preparadora de elenco: "Ela disse que não sabia, mas ia procurar. Através dela, eu cheguei na Priscila Lobo, que é pesquisadora de elenco".
Muitos testes: "Foi uma longa jornada de muitos textos, muitos vídeos", ele conta. No total, foram 5 meses até que ele fosse... pré-aprovado. Faltava o crivo dos diretores, claro.
Guito Show como o Tibério de 'Pantanal'
Globo / João Miguel Junior
Mas a saga dramatúrgica deu certo. Ele foi sozinho para as primeiras gravações.
"Eu cheguei para gravar no Mato Grosso de carro. Peguei a minha Rural, com vinho para caramba. Pensei: 'um lugar que vai ter 30 artistas e não tem um bar? Esse povo vai querer vinho. Deixa comigo.' Então a gente foi fazendo aquelas rodinhas de viola, foi criando um ambiente muito gostoso a ponto de que, quando foi para gravação, eu já tava bem à vontade com os atores", ele diz.
"Eu tive a sorte de já começar gravando lá no Pantanal, que é um habitat familiar para mim. Sou acostumado a viajar e fazer shows em fazenda, no meio do mato. De certa forma eu estava mais em casa do que os próprios atores."
Claro que não foi tudo festa e vinho. "Na hora de olhar para a câmera e fazer alguma coisa, aquilo ali é outro mundo. Eu tenho que confessar que o frio na barriga bateu forte. Mas eu estava ao lado de Marcos Palmeira, Dira Paes, José Loreto e Juliana Paes, o que me deu uma certa tranquilidade".
Guito conseguiu passar essa tranquilidade interiorana para o Tibério, que virou ídolo na internet - e em Araxá. "Hoje estou de folga aqui. Quando ando na rua as pessoas param o carro, tiram foto no supermercado. Todo mundo reconhece o bigode também. Bem marcante, né?"
'Minimalista'
Guito falou ao g1 por videochamada de casa, ao lado de um dos filhos. Ele define sua vida depois de sair do trabalho na Coca-Cola como "minimalista"."Lavo minhas roupas, faço meu almoço, passei a fazer atividade física e comecei a ficar mais saudável em função disso."
"Eu vou ao supermercado a pé, eu só ando a pé, não tenho carro. Levo meus filhos de bicicleta para a escola. No Rio eu ando de metrô ou alugo aquelas bicicletinhas."
A novela é um impulso para a carreira na música. Guito é fã do grupo americano Dave Matthews Band e de brasileiros como Tião Carreiro, Almir Sater e Renato Teixeira. Ele diz que prefere "os caipiras" e, no sertanejo vai até Chitãozinho e Xororó e Leonardo.
Na novela, ele consegue tocar trechinhos de suas músicas, como "Empatia".
Por enquanto, ele até se vê interpretando outros papéis, mas sempre neste universo. "Estou totalmente aberto a essa possibilidade no futuro. Dá para conciliar (atuação e música). Mas eu aspiro mais a esse universo rural mesmo, que tem relação com viola e com a música".