O aumento nas internações pela covid-19 na capital e na Grande São Paulo coloca em alerta a rede hospitalar no interior paulista. Embora os casos mais graves da doença ainda sejam pontuais, cidades como Ribeirão Preto, Sorocaba e Araraquara registram crescimento nos casos e testes positivos para a covid. Especialistas preveem que em duas ou três semanas a nova onda de covid vai atingir o interior e os hospitais devem estar preparados para receber um número maior de pacientes. Gestores de saúde se preocupam com pessoas com doses da vacina em atraso e o risco de maior disseminação nas festas do fim do ano.
Na Grande São Paulo, o número de internações por covid-19 em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) cresceu 65,1% nas duas últimas semanas, segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado. O número passou de 215 pessoas internadas em 25 de outubro para 335 no último dia 8. Em enfermarias, o número de hospitalizados cresceu 81,3%, de 364 para 660 no mesmo período. Os hospitais privados também apontam aumento de internações na capital.
Em Ribeirão Preto, no interior, apenas os casos registrados na primeira semana de novembro já superaram a metade dos registros de todo o mês de outubro. Conforme boletim epidemiológico da pasta municipal da Saúde, até 8 de novembro foram 72 casos positivos, oito vezes mais que na semana anterior e 54% do total de outubro (131 casos).
Não houve, porém, registro de morte relacionada à covid em novembro, até esta quinta-feira, 10, nem aumento expressivo em internações. Em outubro, houve seis óbitos. "O momento é de vigilância, monitoramento e acompanhamento do número de pacientes atendidos em todo o município, não só nos nossos serviços, mas em todos os que geram notificações", disse a diretora de Vigilância em Saúde, Luzia Márcia Romanholi Passos.
Em Sorocaba, foram registradas três novas mortes pela covid-19 em boletim divulgado nesta quinta. Duas mortes aconteceram esta semana - as vítimas foram um homem de 55 anos e um idoso de 86. Em outubro, a cidade chegou a ficar 24 dias sem registrar óbitos pela doença. Houve ainda 35 casos positivos de covid-19. O boletim anterior registrou 22 novos casos. A prefeitura informou que não houve reflexos na ocupação hospitalar.
O alto número de pessoas que estão com doses adicionais em atraso preocupa a prefeitura de Piracicaba. São quase 190 mil pessoas, a maioria - 92 mil - que deveriam ter tomado e ainda não tomaram a terceira dose. Nesta sexta-feira, 11, a Secretaria de Saúde divulgou a abertura de vagas para agendamento, na tentativa de incentivar a busca pela vacina.
Conforme o subsecretário Augusto Muzilli Junior, embora o indicador de internações esteja estável na cidade, com menos de 10% de ocupação das vagas em UTI e enfermaria, a proximidade das festas de fim de ano deixa a Saúde em alerta com a possibilidade de aumento nos casos. "Para garantirmos que estes momentos ocorram de forma saudável e segura, as pessoas precisam se vacinar e seguir as orientações de prevenção da covid-19", disse
Em Araraquara, a Secretaria Municipal de Saúde vai iniciar nos próximos dias o sequenciamento genético de casos confirmados, em parceria com a Unesp, para identificar se a nova cepa BQ.1 ou outras variantes já circulam na cidade. No período de 4 a 10 de novembro, a cidade registrou 97 casos positivos da doença, mais que o triplo dos 27 casos da semana anterior. A positividade para amostras em geral cresceu de 3,9% para 8,4%. Entre os sintomáticos, o índice de positividade para covid-19 subiu de 6,6% para 18%.
O boletim divulgado na última sexta-feira registra dois pacientes internados em enfermaria. No anterior, apenas um paciente estava hospitalizado. "Com relação às internações nos serviços hospitalares que disponibilizam leitos para covid-19, públicos e privados, a cidade conta com uma taxa de ocupação de 5% de leitos de enfermaria, mas não tem leitos ocupados em UTI", disse a pasta. O comitê de covid informou que "acompanha atentamente a evolução da nova cepa BQ.1" e lembrou que, apesar da não obrigatoriedade do uso de máscaras, está mantida a recomendação dessa proteção, principalmente no transporte público e nas unidades de saúde.
Conforme o epidemiologista Carlos Magno Fortaleza, da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu, o interior do estado não vai escapar do aumento nas internações por covid-19 que já acontecem na Grande São Paulo. "Já temos um pequeno aumento no número de casos, mas os registros não aumentaram tanto talvez porque muita gente pode estar fazendo autoteste e não reporta à saúde pública Ainda não tivemos impacto nas internações no interior, como acontece na capital. Ainda não aconteceu, mas, devido à dinâmica já conhecida da doença, é esperado que aconteça nos próximos dias", disse.
Para a infectologista Raquel Stucchi, docente da Unicamp, por tudo o que aconteceu durante a pandemia, já se sabe que o aumento das internações no interior costuma acontecer de duas a três semanas depois que aumentam na capital e Grande São Paulo. "O interior deve estar preparado para um aumento de casos que necessitam de internação. Não será um aumento tão expressivo como no início da pandemia, mas as pessoas que estão com a vacinação incompleta, ou seja, menos de quatro doses para pessoas acima de 18 anos, ou as crianças que ainda não estão vacinadas, assim como idosos e imunodeprimidos, fazem parte da população que podem ter doença mais grave e necessitar de internação", disse.
Essa população, segundo a especialista, deve ser mais cuidadosa, evitar os contatos de risco para a covid, usando máscara sempre que houver aglomeração, mesmo em ambiente aberto. "Em ambiente fechado, pelo menos para essa população o uso de máscara cirúrgica ou PFF2 deve ser obrigatório. É um momento de preocupação e devemos estar atentos. É importante atualizar a vacinação, pois há vacinas disponíveis na rede básica."
No caso da rede hospitalar, ela considera importante que os hospitais tenham um plano de emergência pronto para ser aplicado, caso aumente o número de pacientes com covid, para que possam ampliar os leitos de internação e de UTI. "Ampliar leitos significa também ter recursos humanos suficientes, da equipe médica, de enfermagem, de todo apoio da limpeza para atender adequadamente esses pacientes, caso aconteça a necessidade de mais internações", observou.
O governo de São Paulo anunciou nesta sexta um investimento de R$ 93 milhões para ajudar as prefeituras a ampliarem a imunização de doenças que podem ser prevenidas por vacinas, como a covid-19, o sarampo e a pólio. Os recursos também serão utilizados no controle da dengue, zika vírus e chikungunya, doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. As verbas serão distribuídas proporcionalmente entre os 645 municípios paulistas.
Agência Estado