Minas Gerais Gerais

Dados da PM indicam bairros que concentram crimes em BH. Veja ranking

Por Redação

14/11/2022 às 04:53:38 - Atualizado há

 

Câmeras, vigilantes de lojas e mesmo a presença de policiais militares em praticamente todos os quarteirões não são capazes de conter a criminalidade no Centro de Belo Horizonte, o bairro com mais registros de ocorrências de crimes violentos da cidade. Levantamento exclusivo da reportagem do Estado de Minas sobre a distribuição geográfica das ocorrências violentas na capital, com base em números fornecidos por fonte da Polícia Militar de Minas Gerais, mostra que a área central apresentou 474 ocorrências entre janeiro e julho de 2022 – um nível muitas vezes maior que nos demais da lista dos 10 mais violentos: Santa Efigênia (76), Carlos Prates (75), Floresta (71), São Luiz (69), Céu Azul (66), Savassi (65), Mantiqueira (62), Serra (60) e Lagoinha (59). (Confira a lista completa no em.com.br.)

 

Os crimes violentos na capital mineira, no entanto, não têm aumentado, encontrando-se em estabilidade, com queda discreta. Segundo dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), de janeiro a setembro, o total caiu 0,78%, de 7.295, em 2021, para 7.238, em 2022. Estão, também, muito distantes de épocas de escalada de violência, como nos anos 2000, quando foi necessária uma junção da PMMG, Prefeitura de Belo Horizonte e Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL-BH) para implementar políticas como a instalação sistemática de câmeras de vigilância e a remoção para shoppings populares de camelôs que tomavam contas de calçadas.

 

São considerados crimes violentos pela Sejusp o estupro, a extorsão, a extorsão mediante sequestro (incluindo sequestro-relâmpago), homicídio e tentativas, roubos e tentativas, sequestro e cárcere privado e tentativas.

 

O grande volume de usuários de drogas, traficantes, receptadores e pontos de venda de produtos sem procedência – muitos roubados ou furtados – no Centro é destacado como fator que contribui para a criminalidade por várias pessoas ouvidas, entre comerciantes, consumidores, trabalhadores e estudantes. “O usuário ficou cara de pau demais. Não teme mais ser preso. Sabe que não fica na cadeia ou que sai rápido. Então, para comprar as drogas, tenta furtar ou roubar (com ameaça ou violência) e já tem quem compra e revende. Já não liga para câmeras, nem para a polícia. Depois que roubam, correm para o lado da Avenida Olegário Maciel, para a rodoviária, lugares que nós temos evitado ir”, afirma a gerente de loja de bijuterias Larissa Julia Alves de Macedo.

 

 

Com orientação de policiais, a reportagem do Estado de Minas passou oito horas circulando por áreas em que ocorrem atividades ligadas ao crime no Centro de BH. Moeda para traficantes, usuários, ladrões e outras quadrilhas, os celulares sem proveniência são vendidos em diversos pontos do Hipercentro (entre a Praça 7 e a rodoviária). A Rua Curitiba e trechos de suas esquinas com a Avenida Santos Dumont, Rua dos Guaicurus e Avenida Oiapoque concentram esse comércio, fomentando os furtos e roubos de aparelhos.

 

O mercado clandestino dos celulares opera com dois tipos de pessoas. Os mais numerosos são os captadores, pessoas que ficam encostadas nas paredes de pontos de comércio, sob marquises ou perambulando nas esquinas chamando interessados: “Celular, celular. Vendo celular”. Ao se mostrar interessada, a pessoa pergunta quais modelos disponíveis e o preço – uma fração de um novo ou até mesmo dos usados vendidos com procedência e garantias. Nesse momento, ocorre o encaminhamento até o vendedor, que é quem tem o aparelho, mas que não fica com ele. O telefone só é visto momentos antes da compra, quando o vendedor o busca em local discreto.

 

TECNOLOGIA DE PONTA A reportagem procurou aparelhos 5G, tecnologia que opera desde o fim de julho, o que provavelmente levaria a uma oferta de usados pequena. O “negócio” foi tratado com intermediação dos captadores com três vendedores, sendo que dois tinham aparelhos 5G. Os preços para smartphones em muito bom estado e funcionando eram atrativos, quase 70% mais em conta que os das lojas. Um Samsung A73, que custa de R$ 2.300 a R$ 2.500 novo, ou na casa de R$ 1.900 usado, é vendido a R$ 800 na rua. Um Motorola Edge 30 de 256 gigabytes custa entre R$ 2.400 e R$ 2.600 novo, enquanto o usado gira em torno de R$ 2 mil, mas foi negociado, com pechincha, por R$ 850.

 

 

Mercado clandestino diante das polícias

 

A receptação e venda de celulares não é a única atividade a incentivar o crime no Centro da capital. Também no Hipercentro, a reportagem encontrou dois pontos de venda de produtos diversificados, de acessórios de vestuário usados até interruptores de parede e árvores de Natal sem embalagens, notas fiscais ou qualquer indicação de procedência, sendo vendidos a preços muito baixos, tanto enfileirados em locais como a Avenida Paraná quanto aberta e escandalosamente na Praça Rio Branco, em frente à 1ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp) ou mesmo encostados no muro do edifício que abriga a Polícia Militar e a Polícia Civil.

 

Não fosse isso ultrajante o suficiente, a reportagem também viu pedras de crack sendo vendidas e entregues no entorno desse quarteirão, que é considerado área de segurança, e sob os viadutos próximos. Já na Rua Rio Grande do Sul com a Rua dos Carijós, próximo ao Mercado Novo, o comércio sem procedência é mais especializado e oferta ferramentas elétricas, como serras, furadeiras e outras, a preços muito abaixo dos negociados no mercado formal.

 

Tantos pontos de receptação e revenda incentivam roubos e contribuem para a insegurança. De costas para a rua e olhos atentos a cada corredor de mercadorias, o fiscal de loja Vinícius Augusto de Miranda de Souza, de 21 anos, já trabalhou em dois estabelecimentos e passou por roubos a mão armada e dezenas de furtos. “O pior foi quando dois homens armados nos renderam e nos levaram para o fundo da loja para roubar. E pessoas tentando levar produtos ocorre muito. A gente já vê quem são, pelo jeito, por atitudes suspeitas, alguns ficam nervosos”, revela.

 

Com a bolsa sempre à frente e colada ao corpo, a dona de salão de beleza Arilda Aparecida Sousa, de 54, toma uma série de medidas de segurança quando vai às compras no Centro. “Fico sempre de olho em pessoas suspeitas e evito me aproximar delas. Não atendo ao telefone celular. Não pego a carteira e evito fazer compras de Natal e fim de ano muito perto das datas, porque fica muito cheio”, afirma. 

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