Após a disparada de casos de COVID-19 no fim de novembro, a procura pela testagem em centros de saúde de Belo Horizonte também cresceu. Em algumas unidades, segundo estimativa de profissionais ouvidos pela reportagem do Estado de Minas, a demanda para confirmação da doença chega a ser até três vezes maior quando comparada ao período anterior à chegada da BQ.1, nova subvariante da Ômicron. Números da prefeitura mostram que a demanda por testagem cresceu 655% em novembro e, em relação a outubro, o total de atendimentos por sintomas respiratórios teve alta de 58% nos centros de saúde da capital. Diante da escalada, a administração municipal prorrogou a obrigatoriedade do uso de máscaras notransporte e nas unidades de saúde até 3 de janeiro.
O acessório já estava sendo exigido desde 18 de novembro, quando a secretaria apontou o aumento de 15% na positividade dos testes em uma semana como causa da decisão. A medida valeria por apenas 15 dias, mas teve de ser prorrogada diante da escalada de novos casos. “Para que Belo Horizonte não volte a apresentar problemas assistenciais como falta de leitos, aumento de casos mais graves e até mesmo óbitos, prorrogamos o uso obrigatório das máscaras”, justificou Cláudia Navarro.
Ontem, o Estado de Minas esteve nas unidades de saúde da capital. Por volta das 10h, a equipe do Centro de Saúde Cachoeirinha, na Região Nordeste de BH, já havia feito 20 testes. Desses, mais da metade (11) saiu com resultado positivo para COVID-19. As irmãs Jussara e Josiane da Costa, de 28 e 29 anos, aguardavam na entrada o resultado do exame. “Só estamos com dor de cabeça e um pouco de dor no corpo, mas, como duas pessoas da nossa família testaram positivo ontem, viemos ver se pode ser COVID-19 também”, conta Josiane. Ela avalia os sintomas como mais brandos comparados à última vez em que teve a doença. “Está mais leve. Tive COVID pouco depois de ter tomado a primeira dose da vacina e foi horrível. Está bem mais tranquilo desta vez”, considera ela, que já tomou três doses do imunizante.
A advogada Ana Carolina Radicchi, de 27, acabou de sair do isolamento após pegar COVID-19 há menos de 20 dias, mas precisou refazer o exame depois que o namorado testou positivo na segunda-feira (28/11). “Ele e a família pegaram, e a gente tinha se encontrado esses dias. Como sou asmática, não melhorei 100% depois do meu isolamento. Comecei a passar mal, não sabia até onde podia ser sequela da COVID, uma crise ou uma nova infecção. Na dúvida, vim fazer o teste”, contou, celebrando o resultado negativo. A advogada é vacinada, recebeu a dose de reforço e diz que tem feito todo o possível para se proteger contra o vírus, como usar máscara e evitar aglomerações, especialmente por morar com uma pessoa idosa e diabética. “Trabalho e estudo em casa, sempre tomo cuidado. No dia em que resolvi sair, peguei COVID-19”, lamenta.
A percepção dos funcionários dos centros de saúde é corroborada pelos dados da prefeitura da capital. Segundo a administração da cidade, em outubro, foram feitos cerca de 29 mil atendimentos a pacientes com sintomas respiratórios. Em novembro, o número chegou a aproximadamente 46 mil, aumento de 58%. Nas unidades de pronto-atendimento (UPAs), no entanto, o número caiu de 10 mil para 5 mil no mesmo período.
Outro dado que mostra o avanço da COVID na capital é o de testagens realizadas pelo município. Ao longo de novembro, o número de testes feitos em Belo Horizonte aumentou mais de 655%. Se entre 30/10 e 5/11, 4.074 pacientes buscaram pontos da prefeitura para aferir a contaminação pelo coronavírus, esse número saltou para 30.789 entre 20 e 26/11, últimos dados disponibilizados pelo município.
FILA NA TRIAGEM No Centro de Saúde São Geraldo, Região Leste, o público de pacientes com quadro gripal também era maioria. A unidade amanheceu com uma fila de pacientes esperando pela triagem para fazer o teste rápido da doença. Depois de dois dias passando mal, a assistente administrativo Patrícia Rodrigues, de 34, decidiu ir ao posto para tirar a dúvida se estava com uma crise alérgica ou COVID-19. “Não deixa de ser preocupante. Temos que cuidar de nós mesmos e também dos outros”, disse.
O funcionário público Wesley Marques, de 57, diz ter observado aumento de casos entre amigos e familiares. “Muita gente que conheço pegou nos últimos dias”, conta. Com sintomas gripais, ele também aguardava a triagem para fazer o teste no Centro de Saúde São Geraldo. “Tem uns dois dias que não estou dormindo direito e comecei a desconfiar que podia ser COVID”, disse.
Sem uma área reservada para os casos suspeitos, como era habitual no início da pandemia, outros pacientes que aguardam atendimento nos postos de saúde dividem espaço com aqueles que esperam pelo teste. “Acho que quando é suspeita não deveriam colocar as outras pessoas em contato com a gente. Ainda que todos estejam usando máscara, é um risco”, reclama Patrícia. Desde 18 de novembro, as máscaras voltaram a ser obrigatórias em serviços de saúde, no transporte público e nas respectivas estações de embarque e desembarque, no transporte escolar, em táxis e carros de aplicativo de BH.
TEMPO DE ESPERA Até o momento, as unidades não registram superlotação e longas filas. A espera por atendimento, segundo pacientes, demora entre uma e duas horas. Enquanto isso, o resultado do teste rápido de COVID-19 leva, em média, 20 minutos para ficar pronto. “Foi muito rápido. Agora estou só esperando o resultado do exame”, conta a operadora de caixa Gersa Ferreira da Cruz, de 49, que aguardava na porta da Unidade de Pronto-atendimento (UPA) Leste. Vacinada com as quatro doses, ela conta que, nos quase três anos de pandemia, ainda não pegou COVID-19. “Nunca tive. Nem ninguém da minha família, graças a Deus”, disse, na torcida para que o resultado desse negativo. Mesmo com a flexibilização das medidas de segurança na capital, ela mantém o uso frequente da máscara e do álcool em gel. “Tem que cuidar”, defende.
PARCELA DE POSITIVOS Além de um aumento na procura por testes, o percentual deles indicando positividade é outro fator que atesta uma circulação mais intensa do coronavírus na cidade. Na primeira semana de novembro, 5% dos testes feitos deram positivo para COVID-19. Esse número saltou para 15% na semana seguinte, depois para 28% e chegou a 33% na semana entre 20 e 26 de novembro.
Em relação ao número de novos casos registrados, novembro também fechou indicando uma tendência de alta. Dados publicados no boletim epidemiológico da prefeitura na quinta-feira (1º/12) mostram que o número de casos da doença registrados na cidade na segunda quinzena de novembro foi mais de sete vezes superior ao computado na primeira metade do mês. Entre 1º e 16 de novembro, a cidade teve 636 novos casos da doença, ao passo que, entre 17 de novembro e 1º de dezembro, foram 4.907. A marca de 4 mil casos em 15 dias não era batida desde agosto (veja quadro), mês em que as máscaras se tornaram facultativas em todos os ambientes de Belo Horizonte pela primeira vez desde o início da pandemia.
Em 21 de novembro, dias após a detecção dos primeiros casos da subvariante BQ.1 em BH, o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, falou à imprensa e revelou que o aumento do número de casos era esperado para as próximas semanas, assim como está sendo observado. O médico, no entanto, disse que a cobertura vacinal atual conseguirá fazer com que o aumento da incidência da doença não se converta em mais internações e casos graves. A preocupação se dá em relação ao início do período frio em 2023, e, por isso, é preciso começar a se preparar já, aumentando a adesão ao imunizante.
“Há uma expectativa, sim, de termos crescimento de acasos agora, mas nosso foco de preocupação maior está na sazonalidade do próximo ano (…). Certamente, em março e abril, viveremos o que vivemos este ano. Vocês se recordam, UPAs muito cheias. E nós temos, nessa época, influenza, que é a gripe, vírus sincicial, que dá geralmente em crianças, e a COVID. Então, o foco nosso está na vacinação. (...) Temos uma oportunidade de chegar em um período sazonal com a população protegida, coisa que a Europa e os Estados Unidos não tiveram porque eles estão no outono e inverno agora”, alertou.
VACINAÇÃO Os números da vacinação em Belo Horizonte estão estagnados. Na quinta-feira, a prefeitura se manifestou dizendo que não tem estoque para ampliar a cobertura da quarta dose, ou segunda dose de reforço, na cidade. Desde o fim de junho, o público-alvo se restringe a moradores de mais de 40 anos. E, mesmo dentro dessa faixa etária, a cobertura é deficitária. Apenas 38,9% das pessoas elegíveis completaram o esquema vacinal, o que indica que mais de 700 mil moradores já poderiam estar em dia com o calendário de proteções, mas não o fizeram.
A positividade dos testes de COVID-19 também cresceu ao longo do mês, em Minas Gerais. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), apenas 1% dos testados apresentaram resultado positivo para o coronavírus entre 9 e 15 de outubro. De 6 a 12 de novembro, o número subiu para 7% e, entre 20 e 26 de novembro, a taxa de positividade chegou a 29%. Ainda segundo a SES-MG, as últimas semanas também foram marcadas por crescimento de hospitalizações causadas pela COVID-19 na rede pública de saúde. Entre 9 e 15 de outubro, foram feitas 20 solicitações pela doença e 871 por síndrome respiratória aguda grave (SRAG). Entre 20 e 26 de novembro, 312 pacientes contaminados pelo coronavírus tiveram de ser hospitalizados, aumento de 1.460% em relação ao período anterior, e outras 1.004 solicitações foram feitas por SRAG, crescimento de 15%.