Um dos compostos estudados pela pesquisa foi a antocianina, responsável pela coloração arroxeada encontrada em certos alimentos. A nutricionista Patrícia Soares Alves Lara, especialista em bioquímica celular, oxidologia, nutrição anti-aging e sócia-fundadora da Clínica Soloh de Nutrição, explica que a blindagem dessa substância é muito interessante para garantir que uma quantidade significativa dela chegue às células do corpo e cumpram suas funções. "Durante a digestão, os alimentos passam por uma jornada complexa até serem absorvidos pelas células. Eles precisam ser liberados das fibras alimentares através de uma boa mastigação, enfrentar o ambiente ácido do estômago e lidar com a presença de bactérias no intestino. Além disso, percorrem um caminho até o fígado, onde são metabolizados, antes de finalmente serem liberados para exercerem suas ações nas células. Portanto, facilitar essa jornada é um avanço importante", explica.
A utilização da nanotecnologia permitiu proteger os fitonutrientes, como as antocianidinas, antocianinas, licopeno e clorofila, que são elementos saudáveis e conferem proteção ao organismo. "É muito interessante também que os compostos utilizados para fazer essa 'blindagem' são extraídos de alimentos nutricionais, como a casca da maçã e da cenoura, e a proteína da clara do ovo", diz Patrícia. No entanto, a nutricionista ressalta a importância de alertar os consumidores alérgicos às proteínas do ovo sobre a presença desse componente. "É esperado que os fabricantes que adquirirem essa tecnologia para proteger a antocianina informem de forma adequada na embalagem, a fim de fornecer informações claras aos consumidores."
Os pigmentos de coloração arroxeada, conhecidos como flavonoides, presentes em certos alimentos, como as antocianidinas e antocianinas, são amplamente estudados em células e animais, e há boas perspectivas para sua aplicação em seres humanos, conforme ressalta
Patrícia Lara. "Esses compostos possuem propriedades anti-inflamatórias, o que é extremamente relevante em tempos atuais, quando o corpo está constantemente exposto a agressões. Durante o inverno, por exemplo, o clima seco e a poluição atmosférica podem causar irritações nas mucosas, resultando em pequenas inflamações. Compostos anti-inflamatórios naturais, como os flavonoides, ajudam a amenizar esses problemas", diz.
A nutricionista aponta ainda que outros estudos sugerem que esses compostos têm características protetoras para as células nervosas, o que é especialmente relevante em um cenário onde as doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. "Essas doenças estão se tornando cada vez mais prevalentes. Pesquisas em células também indicam que esses elementos podem ajudar a prevenir o desenvolvimento do câncer, inibindo a formação de novos vasos sanguíneos que alimentam as células cancerígenas", afirma Patrícia.
Para a nutricionista, a pesquisa realizada na USP representa um avanço significativo na área da nutrição, uma vez que facilita a jornada dos compostos bioativos até as células do organismo. "Ao proteger essas substâncias, a tecnologia contribui para potencializar seus efeitos benéficos no corpo humano, fortalecendo a proteção e promovendo a saúde."
É importante ressaltar que, quanto mais fácil for a absorção desses elementos nutritivos pelo organismo, melhor será a sua ação e benefícios para a saúde, conforme comenta Patrícia. "Com isso, abre-se um novo horizonte para a nutrição, com possibilidades de desenvolvimento de alimentos mais eficientes em conferir proteção e bem-estar ao organismo humano."