Entre as pinturas mais esperadas estava a obra assinada por Eduardo Kobra, responsável por mais de 500 murais em cerca de 35 países.
Na segunda realizada por ele em terras mineiras, após imagem no Centro de Belo Horizonte, o artista fez referência a Carlos Drummond de Andrade e pintou 240 m² em uma das empenas do Hotel IT, localizado na Avenida Duque de Caxias, no Centro da cidade. No mural, é possível ver o escritor itabirano pintado no estilo único de street art tridimensional de Kobra acompanhado por alguns versos do poeta.
De acordo com o artista, a mais nova empena de Minas Gerais cumpre com o objetivo da arte de falar de história e memória. “Estar em Itabira é algo muito especial, e essas conexões históricas são realmente o que me movem. Poder transformar a cidade por meio da pintura, é algo muito gratificante”, afirma.
Para Kobra, a arte de rua, por conversar com o público mais jovem, serve também para passar mensagens, despertar o interesse em conhecer, pesquisar e entender melhor sobre a história do município, o que considera importante. Ele completa: “Além disso, eu também aprendo muito nesse processo, nas cidades onde estou e com as histórias dos personagens dos quais eu retrato. E por meio da arte pública, conseguimos levar essas referências e grandes ícones para um maior número de pessoas”.
Outras intervenções
Além da obra de Kobra, Itabira recebeu mais sete murais, o que representa 900 m² de área pintada e com aproximadamente em 50 horas de trabalho em cada pintura. Entre um desses murais está a arte “A fuga da Terra”, feita pela artista Mag Magrela, conhecida por retratar figuras femininas que expressam melancolia e morbidez.
Localizada na Avenida Carlos Drummond de Andrade, no Centro da cidade, e inspirada pela poesia “A língua lambe”, do escritor que dá nome à avenida, a pintura de 92 m² retrata uma mulher que segura nos braços um vulcão em erupção e uma canoa. Mag explica o significado dos elementos: “Fiz uma crítica à mineração, quando retrato no painel alguns caminhões pegando fogo. O mural mostra esse processo de destruição que a mineração faz ao redor e como toda uma população tem que, em algum momento, deixar de estar ali ou se vincular àquele tipo de ação, sofrendo, muitas vezes, consequência na questão da saúde”.
“A arte pública é democrática, acaba abrindo esse lugar de debate de vários temas e cria outro olhar para a cidade. Muito importante que esses festivais aconteçam, tanto para a população quanto para os artistas, para que possamos dar continuidade ao nosso trabalho e fortalecer a cena da arte como um todo”, finaliza.
Além de Mag e Kobra, o Centro de Itabira recebeu ainda as pinturas dos artistas italiano Millo,
que veio a Belo Horizonte após a apresentação no MAPA, localizada na avenida João Pinheiro, e Zéh Palito na Travessa da Saúde. Outros artistas locais também foram selecionados como Annosca, Confuso, Gus Pucci e Lolly e Lourena que pintaram o muro da EEMZA, uma das principais escolas de Itabira. Além disso, como surpresa, dois murais dos artistas Drin Cortes e Thiago Alvim foram inaugurados, localizados no Hotel Itabira - R. Tiradentes, 113, Centro e na Av. João Pinheiro, 634, Centro, respectivamente.
Duas instalações públicas, também em homenagem ao poeta itabirano, foram feitas por Raquel Bolinho e Carlos Bracher. Bolinho fez uma escultura de 3,2 m de altura que representa Drummond menino e ficará instalada de forma permanente na Praça da EEMZA. Trata-se da primeira instalação feita por um grafiteiro brasileiro para ser exibida permanentemente em um mesmo local.
Inspirado pela oposição de Drummond contra a mineração e destruição do Pico do Cauê, Bracher ilustrou o pico antes e depois da destruição. Com grandes dimensões e pensada especificamente para a fachada da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, no Centro, a obra ficará em exibição local por um mês.
“Estamos muito felizes com a primeira edição do MAPA, que certamente ajudou a colocar Itabira no mapa da arte urbana brasileira. A gente conseguiu fazer uma entrega linda, com mais de sete obras permanentes, transformando a cidade numa grande galeria a céu aberto, em um circuito de arte pública que é possível ser feito totalmente à pé”, comenta Juliana Flores, uma das curadoras do MAPA.
De acordo com ela, o festival teve um impacto positivo na cidade e ajudou a construir uma nova identidade para o município. “Se Itabira foi desenvolvida com sua história atrelada à mineração e também claro, marcada pelo seu itabirano mais famoso, Drummond, que foi homenageado em algumas obras do MAPA, hoje a Itabira está olhando para o futuro e construindo uma cidade mais acolhedora, mais afetiva, uma cidade que quer sonhar, quer construir uma história que transcende a mineração, que valoriza seu povo, sua origem e sua diversidade. E eu acho que o MAPA, esse grande circuito de arte pública, colabora para isso”, finaliza. Além das pinturas, o evento contou com uma programação ampla, gratuita e para públicos de todas as idades. Foram realizadas oficinas de grafitti com Bolinho e Mag Magrela, que gerou mais um mural, pintado coletivamente pelos participantes, bate-papo do projeto “Sempre Um Papo” com o muralista Kobra, intervenções urbanas e oficina de Tagtool (desenho com luz), com o VJ Suave, intervenções poéticas e sarau de poesia. O encerramento do MAPA contou com uma festa de encerramento de sete horas de programação com dois DJ’s, Batalha de Freestyle e quatro shows, entre eles Mac Julia e Lamparina.
De acordo com a organização do festival, cerca de 80 mil pessoas foram impactadas indiretamente pelas obras, cerca de 60 profissionais foram contratadas de forma direta, sendo que 50% profissionais naturais ou residentes de Itabira, e cerca de 70 fornecedores foram envolvidos, sendo mais de 60% de Itabira.
“Para Itabira, o Mapa é um divisor importante para o que estamos construindo. O evento é um sucesso estrondoso, com repercussão nacional e o nome da cidade sendo divulgado nos quatro cantos do país. A população teve contato com grandes nomes das artes urbanas, artistas da cidade puderam contribuir também com essa construção coletiva. É a confirmação da vocação de Itabira como um ambiente cultural e turístico e um marco para uma cidade que busca uma nova reinvenção. Estamos muito satisfeitos com todo o legado do Mapa e já pensando o evento do ano que vem”, acrescenta o prefeito de Itabira, Marco Antônio Lage.