O acampamento na praça Tiradentes, que já chega há quase uma semana, não tem prazo para acabar. Há 5 dias, militantes de diferentes grupos sociais de Ouro Preto se uniram em favor do mesmo propósito: retirar a Saneouro, empresa de saneamento básico da cidade. Com bandeiras firmadas fora da barraca, cada movimento leva sua luta, unindo-as a de todos para acabar com a privatização da água no município. Filiado ao Partido dos Trabalhadores e engajado em movimentos sociais, o vereador Wanderley Rossi, ou Kuruzu, como é mais conhecido, é um dos participantes do acampamento. Ele afirma: "Eu avalio que nós temos fôlego aqui para ficar, se necessário, seis meses, um ano, até que a empresa vá embora".
O acampamento, que deu início com o pessoal da ocupação de terras Chico Rey, tem, além da presença dos grupos sociais mais ativos do município, o apoio do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto - MTST. Eles estudam, inclusive, realizar uma live junto a Guilherme Boulos, coordenador do movimento, unindo mais força à luta contra a empresa.
Desde 2019, a Saneouro é responsável pelos serviços de água e esgoto de Ouro Preto. As contas, inicialmente com preço fixo de R$22, agora preocupam os moradores. As simulações mostram que o reajuste pode ser impactante a partir das instalações de hidrômetros no município. Raquel Juliana de Castro Lopes, 40, lembra do momento difícil economicamente enfrentado por todos. Ela, que participa de diversos movimentos sociais na cidade, faz parte também da luta do movimento por moradia, esteve na ocupação Chico Rei e participa agora da luta contra a Saneouro. Raquel diz que as simulações de água estão assustando. "Muitas pessoas reclamam da falta de água por vários dias, porém, ao olharem os hidrômetros, eles continuam funcionando. Também reclamam que as simulações são abusivas, a ponto de uma casa com duas pessoas ser cobrado o valor de R$ 350", desabafa Raquel.
A rotina na praça central do município é árdua, mas eles possuem apoio de comunidades e grupos de movimentos sociais que ajudam com a alimentação e conversas para distrair o frio que chega. Diariamente, o grupo realiza reuniões das 17h às 18h, onde são avaliadas as situações e decidido os caminhos a percorrer. Dentre os planos, eles estão preparando uma virada cultural. Historicamente, manifestações culturais sempre fizeram parte da luta e são importantes nas transformações sociais e para o próprio avanço da sociedade. A ação também é uma forma de atrair mais pessoas. Eles continuam, e vão até o fim. "Nosso maior desejo é que a empresa saia da cidade. Se não for possível, queremos tarifas justas para a população", reafirma Raquel.
CPI da Saneouro
Foi instalada na Câmara de Ouro Preto, a Comissão Parlamentar de Inquérito - CPI da Saneouro, que investiga possíveis irregularidades no processo de licitação, que transformou o serviço de água e esgoto da cidade de público em privado. Ontem, 28, marcou o início de uma nova fase do movimento. Foi o último dia para as empresas e demais organizações apresentarem propostas de consultoria técnica da CPI. Nos próximos dias a comissão de licitações da CPI deve revelar o vencedor, que irá orientar tecnicamente o estudo de todo processo licitatório, o contrato e a legislação de modo geral.