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Ricardo Stuckert abre exposição inédita no país em evento com Gilberto Gil em BH

Por Redação

02/06/2022 às 16:29:01 - Atualizado há

O sobrenome que ele carrega é sinônimo de fotojornalismo e fotografia documental. A tradição vem de família: bisavô, avô, pai, tio e irmão trabalharam e trabalham no ofício de capturar e traduzir a realidade em imagem. São mais de 30 anos de experiência, oito deles como fotógrafo oficial da Presidência da República nos dois mandatos (2003-2010) de Luís Inácio Lula da Silva. No início de carreira, Stuckert passou por veículos como “O Globo” e “Veja”.

Foi em 1997, durante sua primeira viagem à Amazônia como fotógrafo da revista, que ele esteve com os Yanomami, um dos maiores grupos indígenas da América do Sul. Lá, conheceu Penha Góes, uma indígena de 22 anos e olhar tão penetrante quanto misterioso. Passaram-se quase duas décadas e Stuckert decidiu voltar à comunidade para fotografá-la novamente.

Não foi fácil encontrá-la. A busca por Penha tardou um ano. Mas Stuckert conseguiu. Há, portanto, duas fotos da Yanomami: uma dela aos 22, outra de Penha 17 anos depois. O tempo marca as expressões no rosto, mas conserva o olhar poderoso. Quando esteve com ela pela segunda vez, Ricardo Stuckert assumiu a missão de registrar, em uma jornada por diversas regiões brasileiras, a vida e a história dos povos originários de 10 etnias indígenas para homenageá-los e para ressaltar a importância da preservação de suas culturas.

O trabalho ganhou as páginas de “Povos Originários – Guerreiros do Tempo” (Editora Tordesilhas), livro lançado em março. Agora, sob o mesmo título, Stuckert amplifica seu discurso, seu grito. Neste sábado (4), ele abre a exposição em Belo Horizonte. Inédita em solo brasileiro, a mostra é uma das atrações do lançamento do projeto Outras Florestas, realizado pela Ong Contato, que acontece no Palácio das Artes (detalhes no fim da matéria) com aula-show de Gilberto Gil sobre cultura e meio ambiente.

Prestes a completar 80 anos, o cantor e compositor baiano mostrará seu repertório marcado pela forte relação com o povo brasileiro e com a ideia de proteção e respeito à natureza. No Outras Florestas, Gil estará acompanhado pelo líder Benki Ashaninka, representante político e xamânico do povo indígena do Acre, que fará uma entrada especial durante o evento.

“O livro foi lançado em março. Minha ideia sempre foi, após o lançamento, começar o projeto da exposição. Em abril, teve a exposição em Buenos Aires e agora em Belo Horizonte. Queremos rodar o Brasil com a mostra. Ainda não tem um cronograma específico, mas quero levar a exposição para todas as regiões do país”, comenta Ricardo Stuckert, diretor de fotografia do longa “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa, indicado ao Oscar de Melhor Documentário em 2020.

A seguir, Stuckert fala sobre sua relação com os povos originários e celebra a possibilidade de abrir a exposição “Povos Originários – Guerreiros do Tempo” em um evento com Gilberto Gil e Benki Ashaninka.

Você teve seu primeiro contato com os povos originários do Brasil, mais especificamente com os Yanomami, em 1997. Lá se vão 25 anos. Com que sentimento você abre a exposição no Brasil?

Abro a exposição em Belo Horizonte com um sentimento de profunda gratidão. Foram anos de dedicação ao projeto do livro e ver as fotos em uma exposição no meu país me deixa extremamente feliz. Este trabalho me trouxe muitos aprendizados e reflexões. Espero que o público goste do resultado e consiga ver, por meio das imagens, a importância dos indígenas como guardiões das florestas.

O que de mais valioso você aprendeu nessas décadas de contato com os indígenas brasileiros?

Foram muitos aprendizados. O modo como os indígenas vivem, a relação com a natureza e a relação entre eles são ensinamentos fantásticos. Os povos originários vivem com aquilo que a floresta oferece. Eles sabem que precisam cuidar da terra para a sua sobrevivência. Então, a relação é de cuidado e respeito. Eles precisam da terra para plantar os alimentos, cultivar plantas medicinais; precisam da água limpa para beber. Compartilham tudo. É impressionante. Ninguém pesca um peixe e come sozinho. Tudo é dividido. Eles nos ensinam a importância de viver em comunidade, de respeitar e preservar a natureza. Outro ensinamento muito importante foi em relação ao tempo. O tempo na floresta é diferente da cidade. Não tem esse imediatismo, essa ansiedade. Na floresta, reaprendemos a arte de parar, respirar e conversar, coisa que não fazemos mais hoje porque tudo é online, as pessoas não tiram os olhos do celular. Lá, é diferente. As pessoas olham nos olhos, conversam, escutam.

Você diz que registrar mais amplamente a vida dos povos originários como forma de homenageá-los. Quais histórias você quer contar na exposição? A exposição é também uma tentativa de inspirar as pessoas para as questões sensíveis aos indígenas?

Espero que a exposição promova uma reflexão sobre a importância dos indígenas para o nosso planeta. As fotografias vão possibilitar que o público conheça os verdadeiros guardiões das florestas e também reflita sobre a importância de preservar essas populações e as terras habitadas por elas.

A exposição passou pela Argentina antes de desembarcar em Belo Horizonte, quando estreia no circuito nacional. Quão emblemático e importante é inaugurá-la na Semana Mundial do Meio Ambiente?

Depois do lançamento do livro, fui convidado para fazer a exposição “Povos Originários – Guerreiros do Tempo” em Buenos Aires. Agora, veio o convite para expor em Belo Horizonte. Acho muito importante mostrar este trabalho para os brasileiros. Começar por Minas também é muito especial. Minha mãe é mineira e tenho muitos familiares que moram em Belo Horizonte e Montes Claros. Então, aqui também é um pouco a minha casa. Inaugurar esta mostra na Semana Mundial do Meio Ambiente é importante para refletirmos e nos conscientizarmos sobre o papel das comunidades indígenas na preservação do planeta e as lições que podemos aprender com os povos originários sobre o meio ambiente.

Em que sentido as presenças de Gilberto Gil e do líder indígena Benki Ashaninka dialogam com a abertura da exposição?

As presenças do Gil e do Benki no evento “Outras Florestas”, que inclui a exposição sobre os povos originários, mostra a importância da união de todos para promover ações que valorizem o meio ambiente e a cultura indígena. O Gil é um grande artista, uma referência na área da cultura. Tem uma extrema sensibilidade para a defesa das causas ambientais e sociais. Ele tem uma percepção profunda da brasilidade, da importância dos povos indígenas como precursores dos cuidados com a terra. O Benki é um dos líderes da etnia Ashaninka. É agente agroflorestal e tem ajudado a disseminar ideias importantes para a preservação do meio ambiente. Me sinto muito feliz em estar ao lado deles na defesa de uma causa tão urgente.

Você tem algum projeto editorial em vista?

Tenho muitos! Quero dar continuidade ao trabalho com os indígenas, mas quero ampliar e fotografar ribeirinhos, quilombolas. Também quero passar um tempo na Amazônia, Pantanal, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica para fotografar os biomas brasileiros.

Programe-se

A aula-show de Gilberto Gil sobre cultura e meio ambiente, que terá participação do líder indígena Benki Ashaninka, acontece neste sábado (4), às 21h, no Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1537 - Centro). Os ingressos estão disponíveis na plataforma Eventim a R$ 200 (plateia superior) e R$ 250 (plateia 2). Há opção de meia-entrada. A exposição “Povos Originários – Guerreiros do Tempo”, de Ricardo Stuckert, será aberta ao público, às 19h, na Galeria Arlinda Corrêa Lima, também no Palácio das Artes. A entrada é franca e a mostra fica em Belo Horizonte até dia 12 de junho, das 9h30 às 21h.

 

Fonte: O TEMPO
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